Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso

Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso
Cons. Benjamin Duarte Monteiro, Nº 01, Ed. Marechal Rondon

Prefeitura Municipal de Tangará da Serra

Prefeitura Municipal de Tangará da Serra
Avenida Brasil, 2351 - N, Jardim Europa, 78.300-901 (65) 3311-4800

Deputado Estadual Drº. Eugênio de Paiva (PSB-40)

Deputado Estadual Drº. Eugênio de Paiva (PSB-40)
Agora como deputado estadual, Eugênio tem sido a voz do Araguaia, representa o #VALEDOARAGUAIA! 100% ARAGUAIA!🏆

Governo de Mato Grosso

Governo de Mato Grosso
Palácio Paiaguás - Rua Des. Carlos Avalone, s/n - Centro Político Administrativo

Prefeitura de Rondonópolis

Prefeitura de Rondonópolis
Endereço: Avenida Duque de Caxias, 1000, Vila Aurora, 78740-022 Telefone: (66) 3411 - 3500 WhatsApp (Ouvidoria): (66) 9 8438 - 0857

terça-feira, 4 de junho de 2019

"Por que lembramos o 4 de junho"

O rebelde desconhecido: foto símbolo do episódio mais sombrio da histórica recente chinesaAo contrário do que uma criança na China de hoje possa pensar, o que ocorreu na Praça da Paz Celestial foi um massacre. Do Estado contra seu próprio povo. É fundamental não esquecer, escreve Perry Link. Lembramos o 4 de junho porque Jiang Jielian tinha 17 anos. Ele ainda tem 17 anos. Ele sempre terá 17 anos. Porque as pessoas que estão mortas não envelhecem. Lembramos o 4 de junho porque as almas perdidas que assombraram Liu Xiaobo até ele morrer também nos assombrarão até morrermos.
Lembramos o 4 de junho porque a luz do fogo nas baionetas é algo que ninguém pode esquecer. Mesmo que ele próprio não a tenha visto. Lembramos o 4 de junho porque ele nos revelou a verdadeira natureza do Partido Comunista da China. Nenhum livro, nenhum filme, nenhum museu poderia tê-lo feito de forma mais vívida.
Lembramos o 4 de junho por causa dos simples trabalhadores que morreram. Não recordamos os nomes da maioria deles, porque nunca soubemos os nomes da maioria deles. Mas lembramos deles como pessoas. E lembramos que nunca soubemos os seus nomes.
Lembramos o 4 de junho porque ele contém os piores lados da China – mas também os melhores lados da China.
Lembramos o 4 de junho porque houve um massacre – não apenas uma "batida", um "incidente", um "evento", um "shijian”, um "fengbo”.
Não foi uma revolta contrarrevolucionária. Não é uma memória distorcida. Ou, como uma criança na China de hoje talvez possa pensar, que este acontecimento sequer aconteceu. Foi um massacre.
Lembramos o 4 de junho, porque foi, como o professor chinês Fang Lizhi apontou com sua própria sabedoria, o único caso conhecido por ele em que uma nação atacou a si mesma.
Lembramos o 4 de junho porque queremos saber o que os soldados assassinos se lembram. Eles foram submetidos a uma lavagem cerebral nos arredores da cidade antes de cumprirem as ordens mortais. Então eles também foram vítimas. Não sabemos o que pensavam então. Mas lembramos disso porque queremos saber.
Lembramos o 4 de junho porque Ding Zilin ainda está viva. Ela tem 82 anos. Quando sai de casa, policiais com roupas civis a acompanham por segurança. Segurança para ela? Não, segurança para o Estado. Sim, é verdade: um regime com um PIB de 100 trilhões de yuanes e dois milhões de soldados tem de se proteger de uma mulher de 82 anos, das suas ideias. Devíamos sempre nos lembrar disso.
Lembramos o 4 de junho para apoiar outros que se lembram. Lembramos sozinhos. Mas também nos lembramos juntos.
Lembramos o 4 de junho porque a lembrança faz de nós pessoas melhores. A lembrança é do nosso próprio interesse. Quando os políticos falam de "interesses", referem-se a interesses materiais. Mas os interesses morais são igualmente importantes – não, são mais importantes. Mais importante do que ter um iate.
Lembramos o 4 de junho porque foi um ponto de guinada histórico para um quinto do mundo. Uma guinada numa direção assustadora. Esperamos que não tenha sido uma guinada desastrosa para o mundo inteiro. Mas isso não sabemos. Veremos.
Lembramos o 4 de junho porque, se não nos lembrássemos, não teríamos ideia. Poderíamos ter inventado isso? Não.
Lembramos o 4 de junho porque há pessoas que querem que nos lembremos dele. Para elas é confortante saber que estamos pensando nisso.
Lembramos o 4 de junho porque também há pessoas que querem que não nos lembremos dele. Querem que esqueçamos. Porque o esquecimento tem o seu poder político. Que jogo horrível! Temos de nos opor a este poder, mesmo que recordar o massacre seja a única forma de fazê-lo.
Lembramos o dia 4 de junho para que não nos esqueçamos de como o governo chinês mente para si próprio e para os outros. Ele diz que o povo chinês há muito tempo fez o "julgamento certo sobre a revolta contrarrevolucionária na Praça da Paz Celestial em 1989".
Mas todos os anos, no dia 4 de junho, a polícia com roupas civis impede as pessoas de entrar na praça. Por quê? Por quê? Se, como afirma o governo, os chineses acreditam em tudo isso, por que não deixar que o povo da praça condene os contrarrevolucionários? A presença da polícia mostra que o regime não acredita nas suas próprias mentiras.
Lembramos o 4 de junho porque tais eventos mexem com o cérebro humano durante muito tempo. Mesmo que tentemos, não podemos esquecer!
Perry Link é professor de Literatura Comparada e Línguas Estrangeiras na Universidade da Califórnia, nos EUA. Foi anteriormente professor de Estudos da Ásia Oriental na Universidade de Princeton. É especialista em língua e literatura chinesas. Link esteve envolvido na tradução dos chamados "arquivos de Tienanmen", uma coleção de documentos secretos que teriam sido produzidos pelo governo chinês após o massacre de 1989.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ame,cuide e respeite os idosos