
Ela fala ainda em crime de ecocídio (destruição em larga escala do meio ambiente), reconhecido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) como crime contra a humanidade. "Quem pratica esses crimes precisa ser penalizado", afirma.
A pressão sobre o governo brasileiro deve vir também dos mercados, frisa Guajajara: "E as empresas precisam ser responsabilizadas, quem está comprando e quem está produzindo."
Segundo Carlos Rittl, do think tank Observatório do Clima, a política ambiental do Brasil não é compatível com seus esforços de abertura econômica: "Para um país que está tentando se abrir e abrir mercados, atrair parceiros e investimentos, o governo está agora fazendo o contrário, mostrando que não é um parceiro confiável. É péssimo para a imagem do Brasil e das empresas brasileiras."
Rittl está convencido de que o presidente Jair Bolsonaro acabará cedendo à pressão internacional: "A pressão vinda através dos mercados vai trazer lições muito duras para o governo brasileiro, de que não é possível matar e desmatar e produzir em cima de sangue, de florestas destruídas, e achar que alguém vai comprar."

Marina vê poucas chances de se alcançar algo através da pressão internacional. "Infelizmente esse governo não aceita nem a pressão interna nem a externa; o presidente tem visão negacionista, visão de início do século 20, de que os recursos naturais podem ser destruídos impunemente."
Por sua vez, o ex-ministro do Meio Ambiente e embaixador do Brasil em Washington Rubens Ricupero aposta muito na pressão vinda do exterior: "A pressão é fundamental, sem a pressão nada vai mudar. E mesmo que o governo tenha uma reação negativa e diga que não vai levar em conta essa pressão, a experiência brasileira desde a época militar mostra que a pressão é eficaz."
É de se esperar que o governo interprete isso como ingerência em assuntos internos e um atentado à soberania brasileira: "Os governos não gostam da pressão e se defendem sempre com esse argumento falso da soberania. Mas quanto mais pressão, maior é a esperança de que se possa mudar alguma coisa. E se houver consequências econômicas, melhor ainda, porque elas fazem com que os interesses das grandes organizações econômicas, como os exportadores, se movimentem."
"Influência global do Brasil ameaçada"
O constante noticiário negativo sobre a destruição ambiental no Brasil prejudica a imagem do país, confirma o cientista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas: "O Brasil é no momento o pária global, tem dificuldade em defender a própria imagem. E no exterior isso causa perplexidade, pois foi justamente a reação de Bolsonaro aos incêndios florestais que desencadeou esse debate global."
O presidente reagiu com sarcasmo e ironia às declarações da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, Emmanuel Macron, de que estavam preocupados com a Floresta Amazônica. Além disso, corresponsabilizou as organizações não governamentais pelos incêndios florestais e rejeitou ajuda internacional como sendo parte de uma conspiração contra o país.
"Bolsonaro se colocou deliberadamente como vilão na questão climática global. Isso ele calculou mal, ao reagir à crítica externa da mesma forma que à interna, ou seja, com provocação e escárnio", analisa Stuenkel. Em consequência, o presidente corre o risco de se tornar anátema para os governos estrangeiros, fato que coloca em perigo a influência política global do Brasil: "É possível que agora Bolsonaro mude seu discurso. Mas é muito improvável que a política climática brasileira vá mudar."
Nas últimas semanas, as primeiras empresas anunciaram boicotes contra o país, pois não querem ser associadas a ele, prossegue o cientista político. "E isso pode se alastrar." Quanto a uma ameaça ao acordo de livre-comércio entre a UE e o Mercosul, "a questão é até que ponto a sociedade civil alemã vai se mobilizar contra".
Contudo, uma não ratificação pela Alemanha não significa que o país mudará sua política. "No caso do Brasil, a pressão internacional pode também ser utilizada pelo governo para ainda reforçar seu argumento nacionalista, de que se trata de um complô contra o Brasil", diz Stuenkel.
Internamente, isso poderá até ter efeitos positivos para o presidente. Já em sua época de deputado, ele parecia sentir-se muito bem no papel do pária discriminado. "Não acredito que Bolsonaro se perturbaria se houvesse ainda mais boicotes de produtos. Isso o fortaleceria em sua narrativa, de que existe uma conspiração comunista contra o Brasil. Portanto é preciso tomar cuidado com a forma de reagir a essa política anticlima brasileira."
Thomas Milz (av)Caminho Político
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