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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

"Papa Francisco é uma das vozes mais lúcidas da atualidade", diz Fernando Meirelles

Anthony Hopkins (esq.) e Jonathan Pryce em cena do filme Os Dois PapasEm entrevista, cineasta fala sobre seu novo filme, "Os Dois Papas". Durante a produção do longa, ele descobriu em Bento 16 um intelectual de personalidade complexa, e em Francisco, uma voz crucial para a humanidade.Em seu primeiro trabalho para a plataforma de streaming Netflix, o cineasta brasileiro Fernando Meirelles conta a história dos dois mais recentes papas do catolicismo – e da inusitada transição entre os dois papados, em 2013, após a renúncia de Bento 16 e a eleição do cardeal argentino Jorge Bergoglio, que adotou o nome Francisco. O filme Os Dois Papas, interpretados pelos atores Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, foi exibido pela primeira vez no último fim de semana, no Festival de Cinema de Telluride, nos Estados Unidos. Em dezembro, o longa deve chegar às salas de cinema e, três dias antes do Natal, deve ser disponibilizado para assinantes da Netflix.
"Ao ver o roteiro pela primeira vez, li o Bento 16 como o vilão num filme sobre o papa Francisco. O filme se chamava O Papa. Depois de montado, [...] Bento 16 ganhou muitos tons de cinza: surgiu um personagem bem mais complexo e mais rico [...], e o filme passou a se chamar Os Dois Papas", afirmou Meirelles em conversa com a DW Brasil.
Sobre o papa Francisco , o cineasta diz que ele representa uma guinada na Igreja Católica. "A mensagem principal do papa Francisco é a misericórdia. E ele pede inclusão e tolerância, duas commodities cada vez mais em falta no mundo."
DW Brasil: Como surgiu seu interesse pela questão política do Vaticano? Você costuma acompanhar assuntos da Igreja Católica?
Fernando Meirelles: Sou um católico muito fraco, deixei de ir à missa aos oito anos e nem me interessei muito pela renúncia do Bento 16. O que me trouxe ao filme foi a possibilidade de conhecer melhor o papa Francisco, uma das vozes mais lúcidas e equilibradas do mundo hoje. Ele compreende que somos uma só humanidade, num único planeta, e que pensar o mundo a partir das nossas nacionalidades ou muros é o melhor caminho para a construção de um mundo distópico, que aliás, já está em construção. Recebi o convite para dirigir com um roteiro pronto e a qualidade dele me pegou também. Há diálogos ótimos que tocam em questões tópicas do nosso tempo. Há também uma conversa íntima sobre culpa e perdão de que gosto muito. Num tempo de intolerâncias, saber ouvir o outro e perdoar nosso oponente não é pouca coisa. O filme anda nessa trilha.
Você segue alguma religião? Como é sua relação com a religião?
Sou agnóstico. Nunca fui apresentado a Deus, não tive uma epifania e nem tive a sorte de encontrar Jesus num culto ou num pomar, mas sinto em algum lugar que esta maravilha que é a nossa existência deve transcender o acaso. Deve haver uma ordem que faz este monte de energia se combinar desta maneira e criar esta vida que conhecemos e a que não conhecemos. Às vezes penso que se existir algo próximo ao que chamam de Deus, ele deve ser mais parecido com um algoritmo ou com machine learning do que com alguém com personalidade, vontades e que se importe com o que fazemos da nossa vida. Mas nesta questão, e em quase todas as outras, prefiro manter as minhas dúvidas a fechar com alguma certeza. Tenho medo de quem tem certezas, incluindo aí os que estão certos de que Deus existe ou de que não existe.
Você precisou pesquisar muito sobre os dois papas para o filme?
Pesquisei muito, era um total ignorante. Este mergulho no tema de um filme é dos maiores prazeres da profissão. Neste caso, a parte de que mais gostei foi falar com ex-alunos ou amigos do então cardeal Bergoglio, em Buenos Aires. A surpresa foi constatar que todos foram unânimes em afirmar que ele era uma pessoa fechada, séria e "extremamente desagradável", embora totalmente comprometido com a sua fé e seus votos. Ao mesmo tempo que era tirânico com seus seminaristas, mantinha sua simplicidade e humildade. Cozinhava para eles nos finais de semana e lavava as suas roupas. A pergunta que mais fiz para todos eles foi quando aconteceu a mudança e por quê. Alguns disseram que ele mudou no momento exato em que foi eleito papa, como que ungido pelo Espírito Santo. Seu amigo mais próximo, hoje responsável pela região de Flores, em Buenos Aires, disse que começou a sentir nele uma mudança e mais leveza dois anos antes de ser eleito. No filme, usei essa informação. Na juventude, Bergoglio aparece sisudo, no conclave que elegeu Bento 16 em 2005, ainda está com a cara fechada. Em 2012, já aparece bem mais leve, como o conhecemos.
Qual sua avaliação sobre o papel de Bento 16 para a Igreja? E para a humanidade?
Ao ver o roteiro pela primeira vez, li o Bento 16 como o vilão num filme sobre o papa Francisco. O filme se chamava O Papa. Depois de montado, graças à ajuda do Tony, como Anthony Hopkins gosta de ser chamado, Bento 16 ganhou muitos tons de cinza: surgiu um personagem bem mais complexo e mais rico. Mudei minha impressão sobre o verdadeiro Bento, e o filme passou a se chamar Os Dois Papas. Bento 16, dizem, é um dos grandes intelectuais do século. Por anos foi o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, a antiga inquisição – linha dura, portanto. Ele condenava a teologia da libertação, literalmente. Passou vários pitos em alguns de seus padres e bispos. Tentou também retroceder algumas decisões do Concílio Vaticano II, que modernizou a Igreja. Até onde entendo, a ideia dos tradicionalistas é que a Igreja se mantenha voltada para as questões do espírito, que não mergulhe tão fundo na vida secular. "Uma Igreja que se casa com o espírito de sua época, vai ficar viúva na próxima época", diz, no filme. Entendo esta perspectiva, e hoje já nem acho que os dois papas sejam tão diferentes assim. As diferenças me parecem mais uma questão de forma do que no conteúdo profundo. Mas não sou teólogo, e seria mais prudente se tivesse sido mais evasivo nesta resposta.
E quanto a Francisco?
Na Igreja, ele representa uma guinada muito forte, mas aprendi que estes movimentos foram muito frequentes ao longo da história dessa longeva instituição. Quando eu era pequeno, as missas eram rezadas em latim com o padre virado de costas para os fiéis olhando para o altar. A Igreja era um mundo obscuro. Uma ala no Vaticano ainda lamenta ter perdido isso. Olhando por essa perspectiva mais a longo prazo, o papa representa apenas mais uma volta no pêndulo da história. Mas se ele não está mudando a Igreja tanto quanto eu imaginava, para a humanidade ele tem sido uma voz quase tão crucial quanto solitária. O papa é o líder de uma comunidade de 1,3 bilhão de pessoas, só o Xi Jinping o iguala, mas ele é o único desta dimensão que levanta a voz contra um sistema econômico baseado em crescimento e consumo, que sabemos estar nos destruindo. Enquanto 100% dos líderes dos estados têm compromissos com seu crescimento econômico, ele é a voz do compromisso com todos os que ficam de fora desta equação, os que mais sofrerão as consequências da insanidade do sistema. Ele não enxerga o mundo como a soma de muitas nações, mas como um espaço comum onde habita uma fraternidade e muitas outras espécies. A mensagem principal do papa Francisco é a misericórdia. E ele pede inclusão e tolerância, duas commodities cada vez mais em falta no mundo.
Em meio ao cenário atual do Brasil e considerando sua postura de defesa do meio ambiente, como avalia a conduta de Francisco sobre o tema?
A encíclica Laudato Si, de 2015, foi o que me fez prestar mais atenção neste papa, além do seu charmoso estilo pop star quebrador de protocolo dos primeiros meses. Ele faz uma condenação dura ao consumismo e à insanidade do nosso modelo econômico, que, como um câncer, está esgotando o planeta e criando uma sociedade distópica. O nome Laudato Si vem da primeira linha do Cântico das Criaturas,de São Francisco, uma oração ou poema que fala sobre a fraternidade entre o homem e a natureza. [...] Curioso que ele [Francisco], um homem da Igreja, parta de uma constatação científica para chegar a seu documento, enquanto alguns líderes mundiais que deveriam ser os mais racionais, optam por negar a ciência e se apoiar em suas crenças para criar os seus documentos. A encíclica assume a ideia contemporânea de que tudo está conectado, o homem é parte deste caldo da natureza e não mais a azeitona da empada. O papa Francisco mostra que não há duas crises separadas, mas uma só crise que só pode ser resolvida junta, a crise socioambiental.
Edison Veiga/Caminho Político

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