
Jaroslaw Kaczynski – oficialmente, apenas um deputado, mas, enquanto líder do PiS, o político que realmente dá as cartas no país – considerava: "Temos o respaldo da maioria de nossa sociedade, mas não está claro se essa maioria comparecerá em massa às urna. Caso positivo, venceremos; se não, nossos resultados talvez sejam medíocres."
Em aparição conjunta na véspera do pleito, Kaczynski e o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki explicaram seu roteiro pós-eleições: dentro de seu "Plano de Cinco Pontos", os populistas de direita defendem: contribuições de seguro social menores para pequenas empresas; benefícios de aposentadoria adicionais; construção de 100 cinturões rodoviários para cidades de pequeno e médio porte; assim como um esquema para elevar os subsídios da União Europeia para os agricultores poloneses, até o nível de seus colegas alemães e franceses.
A legenda foi rápida em produzir promessas, quando necessário: em resposta a relatos de que a falta de cuidados preventivos estava custando vidas, Kaczynski ofereceu exames médicos preventivos para todos os cidadãos maiores de 40 anos.

A questão é: onde? A tarefa de enumerar todos os programas do setor econômico e social que o PiS está financiando, ou promete financiar, tornou-se bastante exaustiva: impostos menores, idade de aposentadoria mais baixa e benefícios infantis são apenas os mais conhecidos. Muitos deles são aplicados pelo governo a despeito das advertências e conselhos de especialistas. E, até agora, essa abordagem tem vingado: o dinheiro está fluindo e a economia floresce.
Porém há mais em jogo do que apenas dinheiro. "O PiS restaurou a dignidade do povo", diz um taxista originário do leste do país. A palavra-chave aqui é "simbologia": orgulho nacional, heroísmo, sacrificar as próprias vantagens em benefício de outros – esse é o tipo de retórica que o partido de Jaroslaw Kaczynski tem empregado repetidamente. E que, ao que tudo indica, está em consonância com o zeitgeist: mesmo muitos cidadãos que não têm filhos louvam a introdução de benefícios infantis financiados pelos cofres públicos.
Para muitos é uma experiência positiva que – após anos de privações na sequência da queda da Cortina de Ferro, quando mesmo os governos de esquerda louvavam o livre-mercado – o governo esteja de volta e cuide de sua gente, mesmo dos que aparentemente não desempenhavam nenhum papel, até então.
"Para eles a virada política foi uma experiência traumática", explica o sociólogo Sinczuch. "No socialismo, as pessoas não tinham simpatias pelo Estado, entretanto ele oferecia uma certa segurança e provia os bens essenciais."
Devido a seu trabalho social, mas também graças à ênfase em valores comuns como "nação", "Igreja" e "família", o PiS angariou a reputação de ser um partido defensor do retorno à ordem e segurança. "Muitos, especialmente os mais idosos, são recordados de seus anos de infância e adolescência."
Grande parte desses artifícios funcionou subliminarmente, explica Sinczuch. Só que o tipo de política que poderia unir a nação teve, antes, o efeito contrário: a sociedade polonesa está mais dividida do que nunca.
Onde anda a oposição?
O problema da ala liberal polonesa é que o líder oposicionista Grzegorz Schetyna não é especialmente popular, sendo responsabilizado pela imagem da Plataforma Cívica como legenda essencialmente anti-PiS, em vez de representar ideias próprias.
E no entanto as falhas do ultradireitista Lei e Justiça são óbvias: o sistema judiciário se encontra em estado deplorável, com os processos se alongando mais do que nunca. Partes substanciais de sua "reforma" – como a aposentadoria compulsória de juízes do Supremo Tribunal – foram sustadas pela Corte de Justiça Europeia.
Diversos juízes se recusam a comparecer diante da nova Câmara Disciplinar quando convocados, pois sua imparcialidade política é colocada em questão. E ninguém sabe se os juízes que assumiram através do novo protocolo de nomeação foram indicados de modo legítimo, nem se seus veredictos e decisões serão mantidos.
Contudo, em vez de apresentar planos próprios, a PO não para de lançar advertências de que a democracia está em perigo. Por outro lado não está muito claro como, exatamente, a aliança de oposição pretende renovar a democracia, critica Wojciech Szacki, do think tank liberal Polityka Insight: "Não há nenhum pacote de leis e emendas para restaurar o Estado de direito."
No máximo, uma mudança de poder só seria possível numa coalizão ampla. A Esquerda tem boas chances de entrar para o Sejm, e as sondagens também mostravam o democrata-cristão e ruralista PSL-KP se aproximando do mínimo de 5% dos votos. O mesmo se aplica ao grupo Confederação, que reúne extremistas de direita, radicais ativistas antiaborto e palhaços da política.
Num ponto, contudo, todas as pesquisas concordavam, e a boca de urna confirma: o PiS está à frente. A questão é se poderá governar sozinho ou se precisará de um parceiro de coligação. Devido ao sistema polonês de distribuição de votos, na eleição anterior o partido nacionalista ficou com maioria absoluta, apesar de só ter obtido um terço nas urnas.
E aí vem a grande questão: como os populistas de direita transformarão a Polônia? Será que estava correta a avaliação de presidentes anteriores, inclusive do líder do Solidarinosc, Lech Walesa, e o país está tendendo em direção a uma ditadura autoritária?
Apesar da parcialidade das emissoras de direito público, o jornalismo crítico ao governo se mantém. Apesar de todos os esforços do PiS de "reforma judiciária" – amplamente condenados dentro e fora do país, e que lhe valeram reprimendas de Bruxelas –, os tribunais continuam pronunciando decisões contrárias aos interesses ao partido do governo. Mas até onde o Lei e Justiça irá, depois das eleições?
Nos círculos liberais, muitos temem que no futuro ele procurará cercear a mídia privada. Certo está que seguirá tentando reorganizar e reconfigurar as instituições estatais como lhe convém. Varsóvia tem que se transformar numa "nova Budapeste" – declarou Kaczynski, alguns anos atrás, numa aparente alusão à Hungria nacional-conservadora e ultradireitista de Viktor Orbán. Cabe ver se, de lá para cá, ele reconsiderou essa meta.
Magdalena Gwozdz-Pallokat (av)Caminho Político
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