
"Como resultado do diálogo, o decreto 883 fica sem efeito, e é criada uma comissão para preparar um novo decreto", anunciou o coordenador das Nações Unidas no Equador, Arnaud Peral, após várias horas de diálogo nos arredores de Quito.
A comissão será integrada pelas organizações do movimento indígena que participam no diálogo e por representantes do governo equatoriano, sendo mediada pela ONU e Conferência Episcopal do Equador. O grupo trabalhará para desenvolver um novo pacote de medidas para reduzir os gastos do governo, aumentar a receita e diminuir os déficits orçamentários e a dívida pública do país.
"Com esse acordo, nos comprometemos de maneira conjunta a restabelecer a paz no país", destacou Peral. O representante da ONU afirmou que o Equador se encontra "numa situação séria e dramática há 12 dias".
"Houve mortes, feridos, pessoas que perderam os empregos, que sofreram pelas famílias. Houve muita angústia", acrescentou. Peral classificou ainda o pacto como um "avanço fantástico e extraordinário".
Moreno afirmou que o acordo representou um "sacrifício de cada uma das partes" e ressaltou que não há "outro princípio mais maravilhoso do que a paz". O presidente agradeceu aos militares e à polícia.
Já o presidente da Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie), Jaime Vargas, afirmou que a Constituição deve ser respeitada, tendo feito depois um resumo do processo que chamou de "luta e resistência". Os povos indígenas registaram mais de dois mil feridos, mais de mil detidos, cerca de dez mortos, além de terem sofrido "tortura das Forças Armadas e da Polícia Nacional", indicou.
Vargas exigiu a renúncia da ministra do Interior, María Paula Romo, e do responsável pela pasta da Defesa, Oswaldo Jarrín.
Após o anúncio do acordo, caravanas percorrem as ruas do país celebrando a medida. Manifestantes bateram panelas e acenavam bandeiras do país.
A crise no Equador estourou no início de outubro, depois que Moreno ordenou o fim do subsídio estatal aos combustíveis como parte de um acordo firmado com o FMI. A medida fez disparar o preço do diesel e da gasolina e originou uma série de violentos protestos por todo o país.
Em 3 de outubro, o presidente declarou estado de exceção no país e, quatro dias depois, com o avanço da marcha dos indígenas para a capital Quito, transferiu a sede do governo para Guayaquil. Milhares de comunidades desfavorecidas da Amazônia e dos Andes viajaram para Quito, onde exigiam que os subsídios sejam mantidos.
No sábado, Moreno impôs um toque de recolher de prazo indefinido e ordenou a militarização da capital equatoriana, onde vivem 2,7 milhões de pessoas. A ordem, porém, foi ignorada pelos manifestantes. Diante do impasse, a ONU mediou o diálogo entre governo e manifestantes para solucionar a crise no país.
A onda de protestos deixou sete mortos e 1.340 feridos, segundo a ouvidoria pública. Mais de 1.100 pessoas foram detidas.
CN/lusa/efe/ap/cp
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