Roberto Alvim criou polêmica ao parafrasear Joseph Goebbels em vídeo para anunciar criação de prêmio de artes. Presidente da Câmara, Confederação Israelita e embaixada da Alemanha criticam secretário. O secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, foi afastado do cargo após ter copiado um trecho de um discurso do ministro nazista da Propaganda, Joseph Goebbels, comunicou a própria Secretaria Especial da Cultura nesta sexta-feira (17/01). A fala de Alvim foi considerada absurda até mesmo dentro do governo, informou O Globo. Parlamentares foram informados da demissão por assessores do presidente Jair Bolsonaro.
Ao comunicar o afastamento do secretário, Bolsonaro afirmou que a presença de Alvim no governo ficou "insustentável" após um "pronunciamento infeliz". "Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas", acrescentou o presidente em nota.
Após a polêmica e o anúncio da demissão, Alvim disse em nota que colocou seu cargo à disposição de Bolsonaro, "tendo em vista o imenso mal-estar causado por esse lamentável episódio". Ele afirmou ainda que não sabia da origem da frase e que se soubesse "jamais a teria dito" e ressaltou ter um posicionamento cristão, além de pedir desculpas à comunidade judaica.
O G1 afirmou, porém, que, segundo assessores da pasta, Alvim sabia que estava citando trechos de Goebbels e, por isso, a escolha de uma estética semelhante à da propaganda nazista para o vídeo.
A embaixada da Alemanha no Brasil também se manifestou. "O período do nacional-socialismo é o capítulo mais sombrio da história alemã, trouxe sofrimento infinito à humanidade. A Alemanha mantém sua responsabilidade. Opomo-nos a qualquer tentativa de banalizar ou mesmo glorificar a era do nacional-socialismo", consta no Twitter das representações diplomáticas alemãs no Brasil.Alvim postou um vídeo para divulgar o recém-criado Prêmio Nacional das Artes. Nele, parafraseia um trecho de um discurso de Goebbels, proferido em Berlim, em 8 de maio de 1933, perante diretores de teatros alemães.
"A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será desprovida de sentimentalismo e objetiva, será nacional com um grande pathos e será ao mesmo tempo imperativa e vinculante – ou não será", disse Goebbels no discurso, que é reproduzido em vários livros sobre o nazismo.
"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", afirma Alvim no vídeo.
Usuários de redes sociais criticaram o secretário e também fizeram comentários sobre a estética do vídeo, a aparência do secretário, seu tom de voz e a música de fundo, de Richard Wagner, o compositor favorito de Hitler.
No início do vídeo, o secretário aparece ao lado de uma cruz e de uma bandeira brasileira, tendo ao fundo a foto oficial do presidente Jair Bolsonaro.
Após a polêmica, Alvim afirmou que a semelhança das falas foi apenas uma coincidência e acusou a esquerda de estar fazendo "uma falácia de associação remota" para desacreditar o novo prêmio. "Foi apenas uma frase do meu discurso na qual havia uma coincidência retórica. Eu não citei ninguém", alegou.
Apesar de ressaltar que a semelhança não passou de coincidência e que jamais citaria um ministro de Hitler, o secretário elogiou a retórica de Goebbels. "A frase em si é perfeita: heroísmo e aspirações do povo é o que queremos ver na Arte nacional", completou.
Numa entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, Alvim admitiu que o trecho foi inspirado em Goebbels. Ele afirmou que repudia o nazismo, mas que as ideias do trecho copiado são perfeitas e que assina embaixo. "A filiação de Joseph Goebbels com a arte clássica e com o nacionalismo em arte é semelhante à minha e não se pode depreender daí uma concordância minha com toda a parte espúria do ideal nazista", disse o secretário ao jornal paulista.
Quem foi Goebbels
Goebbels era uma das pessoas mais próximas de Hitler e considerado por muitos historiadores como o número 2 do regime nazista. Ele foi o ministro da Propaganda do nazismo, tendo ficado famoso pela sua oratória e seu profundo antissemitismo.
Em 1º de maio de 1945, ele e a esposa, Magda, cometeram suicídio em Berlim, depois de matarem os seis filhos do casal por envenenamento.
AS/CN/ots/cp
Nenhum comentário:
Postar um comentário