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domingo, 2 de fevereiro de 2020

“Drummond, a mineração e a comunicação”, por Carlos Henrique Carvalho

O que tem mineração a ver com Drummond e comunicação? Muito. E vou explicar o porquê. Pra isso, vamos voltar um pouquinho no tempo. São Paulo, 25 de janeiro de 2019. Feriado do aniversário da cidade. Eu almoçava em um restaurante armênio da Zona Norte quando pesquei algumas palavras da conversa na mesa ao lado. Barragem, lama, Minas Gerais, morte, Brumadinho. Um clique nos portais de internet e lá estava a notícia. Mais uma tragédia ambiental e humana provocada pela atividade extrativista. Mais uma tragédia anunciada. E, um ano depois, sabemos que poderia ter sido evitada. Estamos aqui para falar de comunicação. E é preciso ressaltar com todas as letras que a comunicação não tem e não teve qualquer responsabilidade pelos erros cometidos pelas empresas nos casos de Mariana e Brumadinho.
As áreas de comunicação da Samarco e da Vale, nesses dois tristes episódios, foram também vítimas de decisões de gestão. Até o rompimento das barragens, tínhamos empresas que eram reconhecidas em variados prêmios por supostas boas práticas de sustentabilidade, relação com as comunidades do entorno de suas áreas de operação e boas empregadoras, gerando milhões de reais em impostos para a economia brasileira. Não preciso me aprofundar mais para que possamos entender que o que estava por baixo do tapete não era do conhecimento de profissionais e agências que atuavam na comunicação das empresas.
Mas eu prometi que explicaria o que o poeta Carlos Drummond de Andrade tem a ver com isso. E explico.
O mestre mineiro nasceu e foi criado na pequena Itabira, cidade mineira localizada no vale do Rio Doce. Na sua infância, no começo do Século XX, o principal topônimo da paisagem itabirense, o morro do Cauê - uma imensa montanha de ferro puro, coberta por vegetação -, começou a ser explorado por mineradoras. Durante a Segunda Guerra Mundial, o mineral brasileiro ganhou valor estratégico para o esforço de combate dos aliados contra o eixo nazifascista. E o morro começou a ser devorado em escala industrial. Até que ao fim da Guerra o governo brasileiro fundou a Vale do Rio Doce, empresa que surgiu inicialmente para explorar as reservas do Cauê. E que nas décadas seguintes ganhou o mundo. O resultado, em Itabira, foi o desaparecimento do morro, que deu lugar a um profundo buraco.E foi nessa sanha exploratória que começou a batalha de Drummond contra a Vale e contra a mineração desenfreada. Tudo isso está relatado no ótimo livro de José Miguel Wisnik, “Maquinação do mundo - Drummond e a mineração”, publicado em 2019 pela Companhia das Letras, que foi resenhado por mim no blog Lombada Quadrada  (leia neste link).
Wisnik fez um mergulho na vida e na obra do poeta mineiro. E revela em seu ensaio todo o esforço de Drummond para mostrar que a mineração sem freios estava criando perigosos monstros nas montanhas de Minas Gerais. Não apenas em sua Itabira natal, mas em todo o Estado, marcado fortemente pela atividade mineradora. O poeta não era contrário ao avanço do progresso, mas denunciava os descuidos e a falta de benefícios locais, denunciando o lucro incessante como causa de todo o rastro de destruição deixado pelas mineradoras. Hoje, a duras penas, sabemos o quanto havia de verdade na cruzada do itabirense. E se a indústria da mineração têm o direito de existir, até porque precisamos dela, precisa se ajustar a novas legislações, operar com responsabilidade e ser objeto de permanente fiscalização. Que esses novos tempos possam também permitir que as áreas de comunicação tenham papel estratégico nessas empresas, pois é preciso que profissionais e empresas especializadas façam parte da tomada de decisões e tenham poder e legitimidade para indicar os problemas e ajudar na busca de soluções.
E, finalmente, é preciso lembrar que a batalha de Drummond foi também uma batalha de comunicação. E as respostas da Vale também se deram nesse campo. As denúncias do mineiro estavam presentes em sua poesia, muitas vezes de forma alegórica, outras com mensagens diretas. Mas ele utilizava todos os meios possíveis para ampliar sua causa. Crônicas de jornal, entrevistas para a imprensa, discursos em eventos públicos. No contra-ataque, a Vale chegou a fazer ironia com o famoso verso “no meio do caminho tinha uma pedra”, publicando anúncio em tom irônico, em plena ditadura. No dia 20 de novembro de 1970, ao anunciar no jornal O Globo a expansão de suas atividades, a mineradora cunhou: “Há uma pedra no caminho do desenvolvimento brasileiro”, se apropriando do verso de seu maior crítico para propagandear seus feitos.
Não temos mais o poeta entre nós. Mas a comunicação no Século XXI será cada vez mais decisiva para que empresas possam continuar sua operação com responsabilidade e o máximo de transparência possível. E para que governos e sociedade sejam fiscais ativos das boas práticas.
Carlos Henrique Carvalho é presidente-executivo da Abracom. Jornalista graduado pela PUC/SP, cursou especialização em gestão de empresas de comunicação na Fundação Dom Cabral. Foi produtor, roteirista e diretor de programas de jornalismo, educação, debates políticos e temas acadêmicos para os canais Sesc/Senac, Record, Gazeta e Cultura. Produziu vídeos para os movimentos sociais da periferia de São Paulo e atuou na equipe de comunicação da Prefeitura de São Paulo na gestão de Luiza Erundina (1989-1992) com ênfase em educação, urbanismo, meio ambiente, diversidade, transporte e planejamento. É co-autor do blog Lombada Quadrada, dedicado a resenhas sobre literatura e a paixão por livros.

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