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sexta-feira, 27 de março de 2020

"O vírus vestefaliano e o vírus harvardiano"

ionlineUm ecrã não é um abraço, um afago, um olhar, não é pele com pele, cara com cara, mão com mão, boca com boca. Não há como fugir – embora fosse um exercício higiénico, para a mente e não só – ao tema vírus SARS-CoV-2. Já está tudo dito, embora a dimensão da “coisa” (ela mesma e ela em nós) e dos seus efeitos deixe margem para dizer ainda tanta coisa (durante quanto tempo? – dúvida lancinante) ou mesmo tudo, pois a vida sempre e sempre surpreende, mais e mais. Mesmo os deuses – que inventámos para resistir e para nos confortarem perante coisas destas – terão respostas, saberão o que dizer? E podemos lembrar-nos de Tucídides, de Camus, de Saramago, de Sontag, de Haynes, inter alios. Eu lembrar-me-ia, por exemplo, também de Céline, viajando ao fim da noite, de Boccaccio, na obstinada memória de tempos prazenteiros, ou mesmo de Montaigne, no seu pretenso isolamento, numa frágil torre por sobre o mundo. Mas lembro-me mais de Vestefália e de Harvard, com o seu intenso potencial contaminador (e até onde? - nova, e maior, dúvida dolorosa).
A primeira, por referência à paz que colocou termo à Guerra dos Trinta Anos, no séc. xvii, e que fundou ou solidificou o essencial da ideia moderna de nação e de soberania, e, ipso facto, também de fronteira, de muro, de separação e de identidade (tão inclusiva quanto exclusiva, pois uma coisa dificilmente vive sem a outra). Levámos, desde então, muito tempo, e com quanto esforço, a tentar, e em larga medida a conseguir, esbater o pior disso. Abrimos, integrámos, globalizámos, aceitámos, interagimos, circulámos, criámos pontes – ainda que com todas as imperfeições e defeitos, como é da natureza das coisas humanas. Mas muito fizemos, e à custa de sangue, suor e lágrimas. E agora? O que virá depois? Tanto mais quanto – mesmo antes da pandemia do vírus e da pandemia do medo, bem como do pandemónio da informação, da desinformação e da hipérbole – já se anunciavam, aqui ou ali, ou mesmo globalmente, sombras marcadas, nuvens escuras. Umberto Eco terá talvez, e infelizmente, cada vez mais razão sobre “a construção do inimigo” – não o vírus, mas o outro, o outro igual a nós, mas feito desigual por força do poder da “identidade” contra a ameaça e contra o medo.
O segundo, por referência ao lugar fundador do Facebook, aqui eleito símbolo (embora pudesse ser outro) das redes sociais e de todas as formas de “socialização” e “contacto” virtuais. Apesar dos pesares, e apesar de tudo, este isolamento de agora – constrangidos que estamos (e aninhados dentro de uma confortável, conquanto aparente a prazo, proteção de muralhas troianas) em face do avassalador inimigo SARS-CoV-2 e das suas representações e sugestões – não nos custa, afinal, tanto, porque temos tudo isso. Muito bem, muito bom. Mas também não nos custa tanto porque, de certa forma, já estávamos habituados a viver assim parte das nossas vidas. E agora? Até onde irá isso? Até onde julgaremos que pode ir essa imitação da verdadeira vida que é a (ilusória) proximidade virtual? Um ecrã não é um abraço, não é um afago, não é um olhar, não é pele com pele, cara com cara, mão com mão, boca com boca. Não é, realmente, a seiva da vida, nem o antídoto para o solipsismo. Andávamos já perto de o esquecer. Será que é agora?
Rui Patrício/Caminho Político

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