
Porém uma coisa é o festival competitivo, com suas espetaculares estreias e tapete vermelho, e outra é o Marché du Film (Mercado do Filme). Como em outros festivais, ao lado das apresentações para o público, imprensa e fãs, promove-se também na Promenade de la Croisette, no sul da França, um mercado de compra e venda de novas produções.

No momento não se pode falar de funcionamento normal, embora diversos cinemas, por exemplo na China, Alemanha e alguns estados americanos, tenham retomado sua atividade, respeitando as regras de higiene relativas ao coronavírus. E parte do que se verá nas salas nos próximos meses está sendo decidida agora, no mercado virtual de Cannes.
Ao que tudo indica, a demanda é grande: 12.500 participantes se cadastraram para a passarela cinematográfica virtual, totalizando cerca de 4 mil novos filmes e projetos de mais de 120 países. Pois no Marché du Film também se pode negociar produções que ainda não estão concluídas.Há tempos Hollywood usa o mercado francês para promover seus filmes, que puderam agora ser assistidos completos ou em trailer na plataforma de Cannes. Em tempos de funcionamento cinematográfico restrito, já causou sensação o anúncio de que o diretor americano Michael Mann, especializado em dramas de ação, apresentaria o roteiro da longamente esperada biografia do entusiasta de automóveis italiano Enzo Ferrari.
Com a palavra, o cinema alemão
O German Pavilion é uma instituição consagrada em Cannes, onde o setor cinematográfico alemão se reúne há anos, para divulgar intensamente sua produção. Assim será neste ano, só que virtualmente. "Para nós, assim como para todos os outros participantes, essa forma é uma estreia, e também um experimento", comentou à DW a organização German Films, que divulga o cinema do país no exterior.

A obra de Christian Petzold pôde ser assistida em fevereiro na Berlinale, onde causou "uma certa sensação", sendo comprada pela distribuidora The Match Factory para exibição em diversos países.
A organização alemã registra as dificuldades adicionais de uma edição digital do Marché du Film: "Tínhamos calculado que o empenho seria menor. Desenvolver uma concepção totalmente nova foi mais trabalhoso do que a realização de um pavilhão alemão, completamente planejada e preparada de antemão."
Pelo menos não sairá tão caro participar do mercado neste ano, uma vez que "naturalmente cai fora toda logística de viagens, pernoites e recepções, e aí também se economizam trabalho e custos".
O que falta, claro, são as reuniões pessoais, pois cinema continua sendo um "negócio de gente", prossegue a German Films: "Filmes 'arthouse' continuam se beneficiando fortemente, em sua comercialização, da atenção dos espectadores e imprensa especializados, assim como das reações do público geradas num grande festival 'físico'."A organização alemã pretende se empenhar especialmente para promover dois filmes em Cannes: um é o documentário A Black Jesus, produzido por Wim Wenders e sua firma Road Movies. Nele, Edward, jovem ganense residente de um abrigo para refugiados na Sicília, pergunta se pode participar de uma tradicional procissão religiosa e carregar a figura de um Cristo negro pelo lugarejo. Assim, o diretor Luca Lucchesi indaga sobre a solidariedade na Europa, que ameaça naufragar no debate sobre os refugiados.
Também Schoko/Brownie (título provisório), da diretora Sarah Blasskiewitz, trata de uma temática atual: a película gira em torno de uma mulher de 30 anos, de raízes africanas, crescida em Leipzig, ao lado da mãe. Ela deseja ser professora e trabalha com o ex-namorado.
"Schoko" ("chocolate" em alemão) é o apelido que ela se dá, e que seus amigos nunca questionaram. Mas em determinado momento, isso muda. O filme, ainda em fase de pós-produção, não poderia ser mais atual: o cinema alemão aposta em Cannes em sua capacidade de despertar interesse internacional – na esperança de que em breve a atividade cinematográfica volte ao normal.
Joachim Kürten (av)Caminho Político
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