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sábado, 4 de setembro de 2021

'Fotojornalismo é a infantaria do jornalismo', diz Edmar Barros

Edmar Barros já cobriu muitos episódios impactantes ao longo dos seus quase 20 anos de carreira. O desastre de Brumadinho, dois massacres no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, conflitos nas regiões fronteiriças mais remotas do Brasil. Mas nada, segundo ele, se compara ao que vive desde março de 2020, quando a pandemia de covid-19 chegou ao Brasil.
Ao lado do amigo e companheiro de pautas Sandro Pereira, ele foi o primeiro fotojornalista a registrar um enterro em Manaus. No desespero dos enterros em valas coletivas, ele esteve por trás das imagens que chocaram o mundo. Assim como em janeiro de 2021, quando os pacientes de covid-19 morreram sufocados nos hospitais amazonenses por falta de oxigênio.
Em 2021, a profissão não deu folga. Com o avanço das queimadas na floresta, ele seguiu rumo ao sul do Estado para registrar a Amazônia em chamas. Neste 2 de setembro, data em que se comemora o Dia do Repórter Fotográfico, Barros dá um emocionado depoimento sobre o que viu e viveu nos últimos dois anos de profissão, incluindo a participação do documentário original Globoplay 'Cercados', que mostrou o dia a dia dos jornalistas no in?cio da pandemia, e as ameaças que vem sofrendo na cobertura das queimadas da Amazônia.
Confira a entrevista completa.
Portal IMPRENSA - Quais os maiores desafios ao tentar reproduzir um fato em uma imagem?
Edmar Barros - O fotojornalismo, o trabalho do profissional de imagem, no geral, é a infantaria do jornalismo. É através das imagens que produzimos que o repórter de texto, o repórter de TV, vai narrar da melhor maneira possível aquele fato. É um trabalho que se complementa. Embora eu sempre diga que a imagem boa é aquela que fala por si só. Uma das dificuldades do trabalho do fotojornalista é fazer com que a imagem fale por si s?. Na nossa regi?o, a dificuldade maior é chegar nas imagens, chegar no local quando o fato não acontece em Manaus, na capital do Amazonas, se deslocar para os interiores.
Em fevereiro, no trabalho de cobertura da pandemia, fui para o município de Lábrea, que é 1,5 vez maior o estado do Rio de Janeiro, no come?o da vacinação. Fui fazer a vacinação nos lugares remotos. Só para chegar na comunidade e vacinar 20 pessoas, foram dois dias de viagem, e 1.000 litros de gasolina a R$ 6,40.
A dificuldade maior, outras vezes, é o impedimento das autoridades quando acontece alguma coisa grave. Tenho v?rios problemas em relação a isso aqui durante a cobertura da pandemia, de tentar e não conseguir registrar fatos. Tem uma série de coisas que impedem, mas a gente sempre consegue, apesar de toda dificuldade, empecilhos, conseguimos de um jeito ou de outro - claro, respeitando os retratados, tendo o maior respeito e empatia pelo que você está registrando quando envolve outras pessoas. N?o pode deixar a ?tica e a responsabilidade de lado.
PI - Você participou do documentário 'Cercados', que mostrou jornalistas e fotógrafos trabalhando durante a pandemia. Como foi estar em Manaus, um dos epicentros da doença, cobrindo de perto a devastação causada pelo v?rus?
EB - 'Cercados' eu considero relevante demais, mostrou os bastidores do nosso trabalho, da imprensa em geral, durante a cobertura do primeiro ano da pandemia, nossas angústias e dificuldades. Da minha parte, considero muito sensível o documentário, para mostrar todas as incertezas da cobertura. Foi tudo muito difícil, porque eu comecei a cobrir a pandemia desde fevereiro, nos primeiros casos de Manaus. Eu e o Sandro Pereira éramos quase que diariamente para o cemitério.
Para mim, foi muito difícil. Passei 11 dias em Brumadinho, e sempre falei que até então, tinha sido a pior pauta da minha vida, apesar de ter feito diversas coberturas. Conflito em fronteira, os massacres do Compaj. Ao longo da caminhada, participei de grandes coberturas, mas até então, Brumadinho tinha sido o mais difícil - nunca vou esquecer do barulho dos helicópteros em cima da minha cabeça, 30, 40 helicópteros resgatando corpos. Mas aí veio a pandemia.
Quase dois anos, quase que diariamente, nessa cobertura em cemitério, porta de hospital. Cercados foi muito importante nesse sentido, para mostrar parte do meu trabalho e dos colegas de imprensa de todo Brasil. Sem dúvida, é o trabalho mais difícil da minha caminhada, além de ser o mais longo.
Com muita humildade, digo que eu e Sandro fomos os primeiros a acompanhar os primeiros casos. Eu fui o primeiro a registrar um enterro durante a pandemia, a segunda vítima de covid-19 do Amazonas, a primeira de Manaus. Um m?sico de 43 anos. Nas primeiras semanas íamos todo dia para o cemitério, porta do hospital. Era cheio de incertezas. Não sabíamos, apesar dos cuidados e de todos os protocolos, se a gente ia estar vivo ou infectado daqui um mês, uma semana. Era difícil lidar.
PI - O que foi mais difícil superar durante essa cobertura?
EB - Nunca desistimos do nosso trabalho, de mostrar aquelas mazelas de Manaus em relação à pandemia. Aqueles enterros em valas coletivas, aquilo foi absurdo e desnecessário. Fui também o primeiro a registrar os enterros em valas onde colocavam cinco, dez caixões. A parte mais difícil era justamente tentar fazer aqueles registros e reportar da melhor maneira possível as imagens sem que ferissem a dignidade das famílias, das pessoas retratadas.
De modo geral, não tivemos dificuldade nenhuma para retratar a dor das famílias - eles queriam que registrássemos, pois aquilo estava cercado de absurdos. Corpos dentro de contêineres, pessoas enterradas nas valas comuns, as famílias estavam desesperadas. E nesse dias os seguranças tentaram me tirar do cemitério e as famílias não deixaram.
Eu era o único profissional naquele lugar, naquela hora. Quando olharam para mim, viram esperança. Quando eu falo, me emociono, porque foi realmente muito forte. Era uma esperança de mostrar o absurdo que estava acontecendo ali. E quando imaginávamos que tudo tinha acabado, em janeiro a falta de oxigênio, outro absurdo. Outro crime cometido pelo governo. Centenas e centenas de pessoas morreram por falta de oxigênio. O insumo mais b?sico de um hospital. Parecia um filme na cabe?a da gente. É quase que inacreditável o que a gente passou.
PI - Como você enxerga a importância do jornalismo fotográfico em situações como essas?
O fotojornalismo e o jornalismo de imagem são fundamentais, nós somos os olhos da sociedade. Em coberturas exclusivas, aquele profissional está ali para mostrar o que está acontecendo, documentando da melhor maneira possível, narrando como realmente é através das imagens. É um serviço de essencial importância. E muitas vezes você é o único profissional que está ali registrando aquelas cenas, como eu na pandemia.
Assim como vimos imagens da gripe espanhola, feitas naquela época, no futuro, o que produzimos vai contar para outras gerações a nossa história, e toda essa desgraça que a gente viveu. Principalmente em Manaus, acho que a cidade mais afetada na pandemia.
PI - Há poucos dias, você denunciou uma ameaça recebida pelo WhatsApp. Como você se sente sendo alvo desse tipo de intimidação?
EB - Se eu tivesse medo de ameaças, não teria escolhido o fotojornalismo como profissão. Na essência, o fotojornalismo é uma profissão de risco. Se você realmente quer fazer fotojornalismo de verdade, corre riscos, é inevitável. Já sofri outras ameaças, intimidação, ao longo dos 18 anos de caminhada. Claro que fico apreensivo, preocupado.
Dá uma dor de cabeça enorme, porque você tem uma série de protocolos a seguir, ir na polícia dar depoimento, fazer B.O. Prestei esclarecimentos, e agora tenho que aguardar o que a polícia vai resolver em relação ao caso. Medo não tenho, mas tenho apreensão... Vou ter bastante cuidado, mas nada que impeça meu trabalho. Seguir em frente e ver no que dá.
PI - Você sabe quem enviou a mensagem?
EB - Não sei especificamente quem enviou as mensagens. Desconfio, pela minha experiência, de alguém envolvido com grilagem ilegal de terra, madeireiro, fazendeiro. Algum desses criminosos ambientais, justamente as pessoas que incomodamos com esse tipo de cobertura. O sul do Amazonas, Lábrea, Humaitá, é uma região que eu chamo de 'terra sem lei'. Não existe a presença do Estado.
Eu e Sandro Pereira rodamos 10 dias, e em 2.400 km não vimos a presença de um policial, um guarda-florestal ou soldado do exército. É uma terra sem lei onde esses criminosos cometem crimes livremente, sem fiscalização ou punição. Apontar uma câmera nessa região gera esse tipo de represália. Teve casos de intimidação dos próprios agentes do estado em operações realizadas lá. Desconfio desse tipo de gente, sóo essas pessoas que incomodamos com esse tipo de reportagens e imagens.
PI - O que você vê na Amazônia, e captura com as suas lentes, que gostaria que o mundo também visse?
EB - A Amazônia, o Amazonas, regula muita coisa para os estados do Brasil e para o mundo inteiro. Vejo que não tem muita atenção a área. Só somos o centro das atenções quando acontece uma desgraça muito grande. Essa é a grande verdade. Isso que eu queria que os grandes veículos se interessassem. A realidade do Amazonas, do povo do interior, as dificuldades que o amazônida vive, que o ribeirinho sofre, o descaso com os indígenas.
Denise Alves/Caminho Político
Foto: Sandro Pereira/Arquivo Pessoal
@caminhopolitico @cpweb

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