Os consumidores de mídia, tanto o público geral como os media watchers, tiveram um ano frenético. Todas as pautas foram contaminadas de forma sistemática pelas fake news, ou seja por notícias previamente planejadas para enganar e desinformar. Para os americanos, o ano começou em 20 de janeiro com a posse do presidente Joe Biden e da sua vice Kamala Harris. As redações esperavam uma substancial alteração na política interna e externa americana e o desmonte prático dos posicionamentos insensatos de Donald Trump. As expectativas não se confirmaram. Ao contrário, as previsões são de que ele conquiste ainda em 2022 o comando das duas casas do Congresso dos EUA e, pior, vença também eleições presidenciais, em 2024.
Na China, Xi Jinping conquistou o comando absoluto do PCC e a possibilidade de se perpetuar no poder como Mao e Deng. O enfrentamento da pandemia, deu uma vantagem estratégica à China assim como o realinhamento com a Rússia contra a União Europeia e EUA e o fortalecimento da presença chinesa no comércio mundial, inclusive na África e no Brasil. A retrospectiva brasileira do ano teve na vacinação quase completa da população adulta, a pauta prioritária do ano. A atitude negacionista do presidente Bolsonaro, no quesito compra de vacinas, foi propositadamente errática e ilegal. Contestada e tipificada como criminosa pela CPI da Covid 19, no Senado, a pauta consumiu a atenção do noticiário por 7 meses e, embora não tenha terminada em pizza, o libelo contra o governo não teve consequências jurídicas que punisse as ações que levaram o Brasil a mais de 600 mil mortos e milhões de sequelados pela pandemia.
No campo das políticas ambientais, a queda dos ministros das relações exteriores e do meio ambiente não permitiu que o Brasil recuperasse sua posição de liderança mundial inconteste na luta contra a degradação climática do planeta, iniciada na cúpula Rio-92. O Brasil, hoje, é um pária internacional, como demonstraram os correspondentes brasileiros na Europa e as equipes especiais para lá enviadas para a cobertura da participação envergonhada de Bolsonaro na Cúpula dos 20, em novembro, em Roma e a participação do Brasil na COP 26, acontecida em Glasgow. Mais um ano em que o Brasil foi notícia pelas queimadas na Amazônia e Pantanal. Mais um ano que as políticas indígenas foram denunciadas no exterior pelo avanço ilegal de posseiros, madeireiros, garimpeiros estimulados por Bolsonaro. A lei 490 que tramita no Congresso, legitima invasões e posse de terras de 45 nações indígenas e é a prova dessa política de estado. No Brasil, a conjuntura econômica agravou-se em 2021. O dólar disparou, a inflação ultrapassou assustadoramente as metas estabelecidas pelo próprio governo. A retomada do crescimento do PIB foi um fracasso. As medidas para combater o desemprego formal foram tímidas. O auxílio desemprego teve um verba enviesada que o governo estipulou, inicialmente em R$ 100 e o Congresso triplicou o valor e foi distribuída nos meses agudos da pandemia. Com a antecipação da campanha eleitoral foi ainda estendida e inserida no orçamento de 2022, em R$ 400. O toque eleitoreiro foi travestir o Bolsa Família numa outra MP: o Auxílio Brasil.
Nosso jornalismo político, profissionalizado, embora tenha perdido nesse ano sua estrela maior, a colunista da Globo News, Cristiana Lôbo, foi insuficiente em sua retórica pedagógica. Nem sempre as redações trataram, em suas reportagens, com devida frequência, clareza e força, as políticas públicas contra a desigualdade. O jornalismo também é um agente de desenvolvimento. O Brasil regrediu a níveis assustadores, nas pautas da educação e da cultura. Explodiu no noticiário policial mas ainda não conseguiu apurar com maior acuidade a célere transformação das polícias do Rio de Janeiro, em milícias criminosas, exemplo que se alastra para os demais estados.
Nesse quadro extremamente severo, a imprensa brasileira teve tempos desafiadores. Iniciou o ano celebrando o centenário da FSP e manteve o fogo cruzado com as fake news e com o discurso de ódio que envenenou a conjuntura econômico-política. Na grande imprensa, veículos consagrados foram extintos como o Jornal Agora e o site em língua portuguesa do El País Brasil. Centenas de jornalistas foram profissional e moralmente assediados, em sua maioria mulheres, pelas milícias digitais.
A imprensa brasileira, contudo, manteve o padrão instigante das coberturas investigativas e do jornalismo de dados. Cumpre saudar, nesse ano em que se comemorou os 25 anos do jornalismo nativo digital, a criação da AJOR que sinaliza ao trade jornalístico a importância da produção colaborativa. Se a sustentabilidade financeira tinha se tornado mais complexa, agora, mexe com a corrida pelos patrocinadores e a parceria com os oligopólios internacionais das big techs.
Por último, a doutrina da liberdade de expressão e de imprensa. Os grupos terraplanistas cinicamente levantam a bandeira de liberdade ou morte, para defenderem que podem ditar através das mídias sociais, a mentira e o discurso de ódio, sem usar o método do contraditório, como lembram os jornalistas que receberam o Nobel da Paz. Por aqui, esquecem ou propositadamente negam que a liberdade de imprensa é uma cláusula pétrea da Constituição do Brasil de 1988, base de nossa jovem democracia.
Veja a retrospectiva completa mês a mês:
Assessoria/Caminho Político
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