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sábado, 19 de fevereiro de 2022

Giordano Bruno, as fogueiras da alma, o furor da ciência. Artigo de Vito Mancuso














"Entre a Praça São Pedro e o Campo de Fiori há menos de três quilômetros. Quando um Papa tiver realizado esses três mil passos indo homenagear a memória de um ex frade dominicano que foi queimado vivo por um de seus predecessores, então talvez surjam as condições para a espiritualidade de que o nosso tempo e especialmente os nossos jovens têm urgente necessidade", escreve o teólogo italiano Vito Mancuso, ex-professor da Teologia Moderna e Contemporânea da Universidade San Raffaele de Milão, e ex-professor de História das Doutrinas Teológicas da Universidade de Pádua.
Eis o artigo.
O aniversário do padre dos "mundos infinitos" nos oferece a oportunidade de repensar a sinergia de todos os conhecimentos.
No início de 1599, o cardeal Roberto Bellarmino, então jesuíta e inquisidor, hoje santo e doutor da Igreja, ofereceu a Giordano Bruno a possibilidade de salvar sua vida. A condição? Abjurar oito proposições tiradas de suas obras. Há oito anos preso no cárcere da Inquisição, o filósofo a princípio pareceu aceitar, mas depois recusou e foi queimado vivo. A fogueira foi realizada em Roma, no Campo de Fiori, em 17 de fevereiro de 1600. Por que Bruno não abjurou?
Dezessete anos antes, descrevendo seu pensamento para uma certa senhora Morgana B., ele havia declarado: "Com esta filosofia minha alma se engrandece e meu intelecto se magnifica". Ele tinha uma filosofia que engrandecia a alma e magnificava o intelecto, e quando o pensamento é verdadeiro, verdadeiro não no sentido de exato, mas no sentido de autêntico, ou seja, profundamente enraizado na existência, transforma a vida. E se recusou abjurar, foi porque se manifestou a força de sua filosofia que lhe fortaleceu a alma e magnificou o intelecto, capacitando-o a enfrentar a morte com dignidade e coragem, como testemunham as crônicas da época.
Ainda hoje todos nós pagamos as consequências daquela fogueira, a que se deve acrescentar a abjuração a que Galileu foi obrigado trinta e três anos depois para evitar o mesmo fim de Bruno. A Itália, naquela época centro da cultura humanista e científica, iniciou a involução que todos conhecemos. A pesquisa científica, que até então estava em harmonia com a fé e a espiritualidade (Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, protagonistas da revolução científica, eram crentes) começou a se desvincular da religião e hoje os cientistas são na maioria ateus. O mesmo vale para a filosofia: os maiores filósofos da modernidade eram crentes, obviamente cada um à sua maneira, basta pensar em Descartes, Pascal, Locke, Vico, Kant, Fichte, Schelling, Hegel, mas hoje a maioria compartilha a afirmação atribuída a Schopenhauer: "Ou se pensa ou se acredita".
E no que diz respeito à espiritualidade, resultou a situação assim descrita por Spinoza algumas décadas depois da fogueira de Bruno: "Para a pessoa comum, religião significa prestar a mais alta honra ao clero". Aquele "clericalismo", que hoje o Papa Francisco indica como o mal maior da Igreja, não cai da lua, mas surge como uma consequência lógica da história.
Belarmino era jesuíta e o fundador dos jesuítas, Santo Inácio de Loyola, ao final dos Exercícios Espirituais, adverte: “Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos a que o branco, que eu vejo, acreditar que é negro, se a Igreja hierárquica assim o determina.” (Exercícios Espirituais, n. 365, décima terceira regra). Esta Igreja hierárquica que durante séculos ensinou a amar a si mesma mais do que a verdade, que quis proteger o seu poder acima de tudo e por isso queimava as pessoas que questionavam a doutrina, expressa da forma mais evidente a negação do ensinamento de Jesus de que "o sábado é para o homem e não o homem para o sábado".
Karl Barth, um dos maiores teólogos do século XX, escreveu: "A Igreja crucificou Cristo".
Obviamente ele não se referia à Igreja histórica, mas à instituição que suprime a liberdade de consciência, que (seja ela chamada igreja, sinagoga, partido ou de outras maneiras) é sempre a mesma e por isso pode-se dizer que a instituição que queimou vivo Giordano Bruno é a mesma que quinze séculos antes tinha feito crucificar Jesus pelo poder romano, assim como é a mesma que ao longo da história condenou, aprisionou e eventualmente matou místicos e espirituais (entre os quais Marguerite Porete, Meister Eckhart, Jan Hus, Michele Serveto, Giulio Cesare Vanini) e que no século XX perseguiu grandes profetas como Padre Romolo Murri, Padre Ernesto Buonaiuti, Padre Turoldo, Padre Balducci, Padre Milani, Padre Mazzolari, Padre Arturo Paoli, para me limitar a alguns italianos.
Acredito que a praga purulenta da pedofilia do clero, que aflige a Igreja em todo o mundo, tem muito a ver com a ditadura intelectual a que submete seus membros, exercendo uma repressão sobre a mente que, assim, não chega àquela maioridade símbolo do Iluminismo descrita por Kant, e assim permanece intimamente infantil, e busca precisamente quem ainda não é adulto. O mesmo vale para as omissões de denúncia às autoridades policiais de padres pedófilos por seus respectivos bispos, sobretudo preocupados em proteger a honra da Igreja hierárquica.
Giordano Bruno, intérprete radical de Copérnico, rejeitava o geocentrismo e o antropocentrismo tradicionais, argumentando que a terra não está no centro do universo e que os seres humanos não são privilegiados, mas compartilham com todos os outros seres vivos a condição que ele denomina de “mutação segundo vicissitude do todo". Em tal universo infinito e sem centro, em que ninguém ocupa uma posição privilegiada e que toda coisa muda segundo vicissitudes incontroladas, trata-se de encontrar uma orientação na vida e isso pode ser feito conectando-se com o divino.
Este era o objetivo da filosofia de Bruno: "Meu primeiro e principal, intermediário e acessório, último e final intento nessa tecelagem foi e é chegar à contemplação divina". Esta contemplação é obtida através de um estado interior particular que ele chamou de "furor", "heroicos furores". Para ele, de fato, entre natureza e divindade não havia nenhuma separação; pelo contrário, considerava que “a luz divina está sempre presente; sempre é oferecida, sempre chama e bate às portas de nossos sentidos e outros poderes cognitivos e de entendimento”. Trata-se apenas de abrir-se à plenitude da vida e, quando a razão se une à esfera emotiva e sentimental, tem-se a condição privilegiada chamada justamente de furor.
Valem para ele as palavras de Albert Einstein: “Grandes espíritos religiosos de todos os tempos se distinguiram por esse tipo de sentimento religioso que não conhece nem dogmas nem um Deus concebido à imagem do homem ... é justamente entre os hereges de toda época que encontramos homens carregados do mais alto sentimento religioso”.
Os nossos dias têm uma enorme necessidade de redescobrir uma espiritualidade à altura dos nossos tempos, que só poderá nascer no diálogo com a ciência e a filosofia, restituindo assim à mente aquela harmonia e aquela confiança sem as quais ela se torna árida e se transforma em uma asséptica e ávida calculadora. Para isso, porém, deve desaparecer o dogmatismo e deve primar o amor incondicional e humilde na busca da verdade, que ninguém possui porque é sempre maior e da qual todos precisam.
Entre a Praça São Pedro e o Campo de Fiori há menos de três quilômetros. Quando um Papa tiver realizado esses três mil passos indo homenagear a memória de um ex frade dominicano que foi queimado vivo por um de seus predecessores, então talvez surjam as condições para a espiritualidade de que o nosso tempo e especialmente os nossos jovens têm urgente necessidade.
Artigo publicado por La Stampa e Caminho Político. A tradução é de Luisa Rabolini. Edição: Régis Oliveira. @caminhopolitico @cpweb

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