Perfis com dicas sobre como driblar fiscalizações se popularizam em plataformas. Avanço da internet em áreas de garimpo, como no rio Uraricoera, dificulta operações de combate.Enquanto a crise yanomami se desenrola, garimpeiros documentam sua rotina, criticam as ações do governo e até mostraram como driblam a fiscalização em suas redes sociais. No TikTok, vídeos como o de uma retroescavadeira sendo enterrada para fugir das operações governamentais atingem milhares de visualizações.
Perfis mostram ainda a atividade ilegal no rio Uraricoera, um dos locais mais disputados e com danos ambientais aos indígenas. Especialistas avaliam que o avanço da internet nas áreas de garimpo nos últimos anos transformou a atividade, servindo como um importante meio para troca de informações e até de venda de mercadorias ilegais, como o mercúrio.
"Todo garimpo hoje tem alguma antena de internet por satélite, o que facilitou muito a comunicação", afirma André Luiz Porreca Ferreira Cunha, procurador da República no Amazonas. "Mas caso o sinal seja bloqueado, pode prejudicar quem usa licitamente, incluindo, por exemplo, equipes médicas que operam na região", aponta o integrante do Ministério Público Federal (MPF).
Segundo Bruno Manzollli, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que monitora o tema, a utilização da internet nos garimpos, como meio de comunicação é uma das principais ferramentas para atuação ilegal e de mobilização de manifestações contrárias às ações governamentais de combate à atividade. "Em termos de tecnologia, representa um aperfeiçoamento em relação à utilização dos rádios", afirma.
"A conexão com redes sociais e aplicativos de mensagens permite a comunicação em tempo real, com maior flexibilidade de localização e o compartilhamento de diferentes tipos de dados, como imagens, vídeos, documentos e localização", indica o especialista.
Crimes divulgados no TikTok
No TikTok, o usuário costabreno2, que se descreve como "operador de máquina pesadas garimpo", mostra em um vídeo do dia 14 de janeiro uma retroescavadeira sendo enterrada para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) "não queimar". A postagem gerou mais de 100 mil visualizações. Nela, ao fundo, alguém diz: "a vida de um operador não é fácil". Em um vídeo do final de 2023, o usuário apresenta uma máquina que haveria sido queimada pelo Ibama, mas que ainda assim seguiria funcionando.
Na mesma rede social, uma série de perfis mostra o garimpo no rio Uraricoera, incluindo o trânsito de equipamentos pesados. O local é um dos maiores focos de operações governamentais contra a mineração ilegal, além de ser a região onde foram registrados alguns dos maiores danos aos yanomamis.
"Estamos observando o tema, e pode haver incitação ao crime nestes perfis. Buscamos maneiras de fazer maior apuração nas redes sociais, mas não há como estabelecer um instrumento prévio contra os conteúdos", afirma o procurador.
As diretrizes do TikTok incluem restrições a postagens relacionadas à atividade criminosa, e a plataforma afirma que removerá conteúdo que forneça instruções sobre como cometer crimes que resultem em danos.
Matheus Gouvea de Andrade/Caminho Político
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