País deve eleger neste domingo sua primeira presidente mulher. Legado de López Obrador em programas sociais e a crescente violência de gangues dominaram a campanha. Os mexicanos vão às urnas neste domingo (02/06) escolher os ocupantes de mais de 20 mil cargos eletivos, inclusive o próximo presidente – que, pela primeira vez na história do México, deverá ser uma mulher. As duas principais candidatas ao principal cargo do país são Claudia Sheinbaum, apoiada pelo atual líder mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e a oposicionista Bertha Xóchitl Gálvez.Também serão em disputa as 500 cadeiras da Câmara dos Deputados e as 128 do Senado, o comando de sete governos estaduais e de prefeituras e milhares de cargos legislativos locais. Quase 99 milhões de mexicanos estão aptos a votar.
As atenções estão mais voltadas para a escolha do novo presidente, que não deixará de ser um referendo sobre o desempenho de López Obrador, à frente desde dezembro de 2018 da segunda maior economia da América Latina.
Como foi o governo López Obrador
O presidente foi eleito com uma plataforma populista de esquerda, prometendo ampliar os benefícios sociais e combater a corrupção e a violência, e encerra seu mandato com alta aprovação. Em abril, seu governo tinha o apoio médio de 66% dos mexicanos, segundo um agregador de pesquisas de opinião da organização AS/COA.
López Obrador teve como um dos pontos fortes a ampliação de programas sociais, a criação de uma aposentadoria universal e o aumento do salário mínimo. Ignacio Ibarra, do Instituto Tecnológico de Monterrey, disse à DW que no seu mandato houve redução da pobreza, aumento do rendimento médio e redução da diferença salarial entre homens e mulheres. O desempenho do governo na área de programas sociais é considerado positivo por 72% dos mexicanos, segundo o agregador da AS/COA.Já no combate ao crime organizado, o cenário é o inverso. Apenas 23% consideram que seu governo fez um bom trabalho na área. Durante a campanha, o presidente ressaltou a queda de 5% nos homicídios em 2023 em comparação com o ano anterior – mas cerca de 30 mil pessoas ainda são assassinadas por ano no México, e mais pessoas foram mortas durante seu mandato do que em qualquer outra administração na história moderna do México.
O governo apostou no uso crescente dos militares para combater a violência, mas sem sucesso decisivo contra as gangues e cartéis, que exercem grande poder sobre áreas do país.
Filiado ao Movimento Regeneração Nacional (Morena), López Obrador não se viu envolvido diretamente em grandes escândalos de corrupção, e cultivou a proximidade com o eleitor por meio de uma linguagem popular e entrevistas coletivas diárias. Ao longo do mandato, ele usou de referendos para aplicar políticas controversas, e em 2022 chegou a promover um recall para confirmar se os eleitores gostariam que ele seguisse no cargo.
Na economia, López Obrador entrega o governo em uma trajetória favorável, com PIB per capita em crescimento, inflação em queda e balança comercial positiva. As exportações mexicanas bateram seu recorde histórico em 2023, e o país vem se beneficiando de uma crescente integração econômica com os Estados Unidos e do investimento de empresas do Ocidente que gradualmente tentam reduzir sua dependência de fábricas na China.
Víctor Gómez Ayala, diretor de análise de dados do Instituto Mexicano para a Competitividade (IMCO), afirmou à DW que houve também esforço da administração por controlar o gasto público, "em contraste com o que foi visto nos casos de outros governos de esquerda populista na América Latina neste período".
Violência na campanha
O problema da segurança pública também se reflete na campanha eleitoral, que já é a mais violenta da história do México. De setembro a maio, 34 candidatos ou pré-candidatos foram mortos – mais do que os 24 candidatos mortos na campanha de 2018. Segundo a consultoria de risco Integralia, houve 560 incidentes violentes contra candidatos, mais do que os 389 na campanha passada.
O grosso desses incidentes está relacionado à atuação de gangues que buscam controlar territórios, influenciar a disputa política e eliminar adversários – o que fez com que diversos candidatos desistissem de concorrer.
O governo federal mobilizou militares para garantir a proteção de 465 candidatos, mobilizando para isso 3 mil soldados – uma parcela ínfima do total de candidatos na disputa.
As eleições serão acompanhadas de perto por observadores internacionais. O Instituto Nacional Eleitoral informou ter credenciado 1.309 observadores externos, o maior número desde 1994, quando começou a prática. A Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina e do Caribe enviará 120 observadores, a Organização dos Estados Americanos, 100, e a Embaixada dos Estados Unidos no México, 76.
As duas principais candidatas
A governista Sheinbaum foi prefeita da Cidade do México antes de ser escolhida por López Obrador como nome para sua sucessão. Neta de imigrantes judeus, ela fez doutorado em engenharia e atuou como pesquisadora na área de sustentabilidade – o que a diferencia nesse ponto do atual presidente, que não priorizou o combate às mudanças climáticas
A outra candidata é Xóchitl Gálvez, uma empresária de origem indígena que concorre pela frente de oposição, composta pelo seu Partido Ação Nacional (PAN), de direita, o Partido da Revolução Democrática (PRD), de centro-esquerda, e o Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México de 1929 a 2000.
Ela estudou ciências da computação e tem uma empresa de tecnologia. Gálvez veste roupas indígenas, se locomove de bicicleta e é uma dura crítica do governo em relação ao combate ao crime organizado. Hoje ela é senadora e filiada a um partido conservador, mas tem posições liberais sobre aborto e maconha.
Sheinbaum está à frente na corrida com uma vantagem de 20 pontos percentuais, segundo uma pesquisa eleitoral feita pela empresa Buendía & Márque e publicada nesta terça-feira pelo jornal El Universal. A pesquisa foi realizada de 16 a 26 de maio e entrevistou 2.000 eleitores.
Sheinbaum tem 54% das intenções de voto, contra 34% de Gálvez. Em terceiro lugar está o candidato Jorge Álvarez Máynez, do Movimiento Ciudadano (MC).
Além de eleger a primeira mulher presidente, o pleito deste ano é o primeiro em que haverá paridade de gênero entre os candidatos, em função de uma reforma aprovada em 2019.
Saraí Aguilar, professora da Universidade Autônoma de Nuevo León e especialista em cultura com perspectiva de gênero, afirmou à DW que será um marco importante para "quebrar o teto de vidro, chegando à posição máxima do poder", mas "temos que ter consciência que isso não irá necessariamente levar a um avanço na agenda feminista".
Sheinbaum prometeu fazer avançar um projeto de lei contra a violência vicária, que afeta em especial as mulheres, mas, segundo Aguilar, quando era prefeita reprimiu protestos de femininas. Gálvez já afirmou ser defensora do direito ao aborto e quer ampliar a inserção econômica das mulheres e a igualdade de gênero no Poder Judiciário, mas é filiada a um partido conservador que tradicionalmente se opõe a bandeiras do movimento feminista.
Na questão da segurança pública, Gálvez propõe reverter a militarização implementada por López Obrador, fortalecer a Polícia Nacional Civil e reformar o sistema prisional, em parte tomado pelo crime organizado.
Já a governista Sheinbaum propõe avançar ainda mais na militarização da Guarda Nacional – o exército goza de alta confiança dos mexicanos, e são vistos como agentes públicos menos expostos à corrupção devido aos salários mais elevados, em comparação com os das polícias locais.
Além da violência, outro tema que demandará a atenção da futura presidente é como lidar com o fluxo crescente de imigrantes que chegam ao México com o objetivo de tentar entrar nos Estados Unidos.
bl (Reuters, DW, ots)Caminho Político
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