O caso foi parar no Ministério Público por conta dos pais de alunos que não concordaram com a iniciativa do candidato e proprietário do Colégio Praça XV. Imbrochável, incomível e imorrível são os dizeres gravados nos botons que supostamente foram distribuídos a algumas pessoas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente inelegível, em uma escola particular de Pelotas para ajudar na campanha do candidato a prefeito do seu partido, que também é dono estabelecimento. Trata-se do Colégio Praça XV, que tem 31 professores e atende cerca de 347 alunos, na educação infantil e ensinos fundamental e médio. Não há confirmação, porém, se os botons foram presenteados a professores e alunos.
O episódio teria ocorrido durante visita do líder bolsonarista ao município no último dia 12 de setembro, em apoio à campanha do candidato a prefeito, Marciano Perondi (PL).
A denúncia foi feita pelo candidato a vereador de Pelotas pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Ivan Duarte, em sua conta no Instagram. De acordo com ele, os pais não foram avisados.
Há um vídeo que mostra Perondi, Bolsonaro e outros correligionários em uma sala de aula, onde anunciam a intenção de transformar a escola, que é privada, em cívico-militar. O Partido Liberal (PL), do candidato a prefeito, é um dos defensores do Movimento Escola Sem Partido, que prega que colégios, como o Praça XV, não são ambiente para política partidária nem de questões de gênero.
Repúdio dos pais
Em nota de repúdio, pais de alunos manifestaram desacordo com o ocorrido: “Nós, pais e responsáveis, ali matriculamos nossos filhos com o objetivo de que recebam uma boa instrução, não dando margem, de forma alguma ao direito de expô-los a tal situação. Não é uma escola de política. Expor nossos filhos à presença (e possível influência) de tal personagem, protagonista de ideias, pensamentos e atos que muitas vezes abominamos, é um desrespeito absoluto a todos aqueles que, como um voto de confiança, concederam aos responsáveis pela instituição o direito e privilégio de participar da formação de nossas crianças”.
“Cadê a escola sem partido que eles pregam? É inadmissível permitir que em um colégio, com crianças em formação, ocorra esse tipo de influência ideológica de seus donos e professores”, questiona Duarte.
Perondi rebate
Em resposta, o candidato a prefeito Marciano Perondi publicou um vídeo em frente à escola com sua resposta às acusações.
Num primeiro momento ele ironiza, “já que tá na moda eu também quero fazer uma denúncia, nesta escola aqui (apontando para o prédio) que tem crianças.Toda escola tem crianças”.
Segundo ele, na sua escola os estudantes são estimulados “a pensar com a própria cabeça”, a desenvolver um espírito crítico.
E relativiza. “Vieram visitar esta escola a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), que é minha adversária política, o deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB), a deputada estadual Adriana Lara (PL) e o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL). Aqui nesta escola não tem ideologia de gênero e nunca vai ter. Os professores não doutrinam politicamente as crianças. Todos têm aula e os conteúdos são ministrados. Não adianta ter ataque de pelanca. Se me for permitido e se os pais quiserem, sim esta escola será a primeira escola cívico-militar particular do estado”.
Em um dos vídeos a que o Extra Classe teve acesso, Bolsonaro afirma que “as escolas ficaram na mão da esquerda durante muitos anos” e que é preciso reverter isso.
O Jornal Extra Classe tentou contato com alguns pais, que não querem falar e alegaram temer perseguições. Houve o relato de uma mãe que prefere não se identificar. Ela diz que o proprietário da escola teria gritado com alguns pais que reclamaram do episódio. Também há confirmação de que já há casos de pais que decidiram tirar seus filhos da escola.
Pais vão ao Ministério Público
Um grupo de cerca de 15 pais entrou com uma representação no Ministério Público do Rio Grande do Sul, em Pelotas, sobre o ocorrido. O promotor de Justiça Paulo Charqueiro, que recebeu as denúncias confirmou ao Extra Classe que foram colhidos materiais de áudio e vídeo que estão sendo analisados.
“No que tange à questões referentes à educação e possíveis irregularidades, os temas são da nossa alçada. Já no que refere a questões eleitorais, serão encaminhados ao TRE”, explica.
Ainda segundo o promotor, a escola deverá ser chamada para prestar esclarecimentos. De acordo com a Promotoria, o foco inicial das análises está na adequação ou não das conversas ocorridas durante a visita ao ambiente escolar.
A Justiça Eleitoral, por sua vez, veda campanhas políticas em escolas públicas por quebrar a isonomia das campanhas eleitorais, mas nada diz sobre as escolas privadas.
ATROPELAMENTO – Marciano Perondi é advogado, dono de escola e sócio na PR1 Construtora e Incorporadora. Em junho deste ano esteve envolvido em outra polêmica. Ele protagonizou um atropelamento que resultou na morte de um ciclista de 63 anos. Inicialmente, a investigação era tratada como lesão corporal e depois ampliada para homicídio de trânsito culposo, após a vítima vir a óbito. Na ocasião, apesar de aguardar o socorro da Ecosul, concessionária do trecho da BR 101, seguiu viagem antes da Polícia Rodoviária chegar e só fez o bafômetro posteriormente, ao ser contatado pela PRF.
Assessoria/Caminho Político
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