A data exata é 4 de julho de 2025, portanto, há três meses. Era o último dia do Fórum de Lisboa, o maior evento político do Brasil, mas que ironicamente é realizado no exterior. Eu estava lá e vi. Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo, chegava aclamado pelos figurões que participavam do encontro que faz a capital portuguesa bombar todos os anos. O coro era uníssono: ele é o próximo presidente da República. E era assim mesmo que Tarcísio se sentia. Já na primeira mesa do dia, ao lado do almirante luso Henrique Gouveia e Melo, que será candidato a presidente no pequeno país europeu no próximo ano, o bolsonarista deixou escapar uma coisa estranha em seu discurso. O assunto era segurança pública e paz social para as nações e, ao se referir ao Brasil, disse que, naquilo que coubesse a ele, “os empresários teriam um ambiente seguro para investir no país”. A declaração gerou um silêncio constrangedor e logo em seguida ele “se corrigiu”, citando a segurança “do povo”.
De herdeiro político do bolsonarismo a inimigo número 1 do Brasil. Como foi que Tarcísio caiu em desgraça e foi desmascarado tão rapidamente? A história é simples, mas intensa e com dinâmica veloz. Muita coisa veio à tona de maneira fortuita, enquanto outras ele mesmo fez questão de mostrar, o que acabou por implodi-lo.
Passadas algumas semanas, em 28 de agosto, o mundo começava a desabar na cabeça do ex-ministro oportunista de Jair Bolsonaro. Era deflagrada pela Polícia Federal a Operação Carbono Oculto, que mostrou uma relação de comunhão total entre o PCC, a maior organização criminosa do Brasil, com vários setores da Faria Lima, o centro financeiro nacional que dá as cartas no universo político da direita e da extrema direita brasileiras. Tarcísio, àquela altura, só vivia enfiado em convescotes e regabofes pagos e organizados pelos barões da Faria Lima e se via numa situação complicada: como as suas polícias, as “mais preparadas e estruturadas” do país, não viram que o Primeiro Comando da Capital tinha mais de mil postos de gasolina, 40 fundos de investimentos com ativos de mais de R$ 52 bilhões, fintechs e toda sorte de “negócios” bem no coração endinheirado de São Paulo, onde o governador só vivia reunido?
Os desdobramentos dessa operação só tornaram tudo pior para Tarcísio de Freitas. Construtoras, edifícios, franquias de lojas famosas, motéis, viações de ônibus, redes de padarias, tudo, absolutamente tudo no estado de São Paulo era comandado pelo PCC, bem debaixo de seu nariz e face a face com seu discurso de “tolerância zero” com a bandidagem, que traduzindo para a vida real significa polícia com fuzis nas ruas matando suspeitos, sempre negros e pobres, nos bairros mais pobres das cidades paulistas.
Uma semana depois, em 2 de setembro, dia em que começou o julgamento de Bolsonaro no STF, Tarcísio volta a surpreender negativamente, e por iniciativa própria. Ele larga São Paulo para trás, embarca para Brasília e de lá passa a liderar um movimento ultrarreacionário e extremista que aposta em todo tipo de maluquice para conseguir anistia para o ex-presidente golpista, que viria a ser condenado nove dias depois. No 7 de setembro, o até então retratado como “moderado” Tarcísio sobe num caminhão de som na avenida Paulista e de lá diz coisas absurdas aos gritos, como chamar o ministro Alexandre de Moraes de “ditador de toga”, afirmar que “não confia no Judiciário” e insinuar que o Brasil não é uma democracia.
Mesmo entre os entusiastas mais fiéis, seja na imprensa, no empresariado ou nos círculos políticos, a tal liderança de Tarcísio para conduzir a direita e o rebanho bolsonarista, no intuito de derrotar Lula em 2026, começa a ser questionada. As manchetes parecem inverter tudo que vinham estampando até então. Agora, o pupilo do “mito” já não é mais um moderado e se mostra apenas mais um radical das franjas mais malucas do bolsonarismo. Ou seja, um descompromissado com o “mercado” e sua postura de ente limpinho e cheiroso. Nesse cenário, em vez de atuar de maneira a minimizar os danos que vinha sofrendo, Tarcísio dobra a aposta, larga São Paulo para trás novamente e passa a se engajar numa estratégia de só falar de Bolsonaro e sabotar o governo federal, chefiado pelo presidente Lula. A coisa entra num espiral de derretimento.
Como se não bastasse, vem a crise das bebidas adulteradas por metanol. Mais de 95% dos casos ocorrem em São Paulo e os primeiros indícios, segundo a Polícia Federal e o serviço de inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública, apontavam para uma ação direta ou indireta do PCC, que havia ficado com muito metanol ocioso depois da deflagração da Operação Carbono Oculto, que resultou no fechamento de muitos postos que vendiam combustíveis “batizados”. Já em meio a esse caos, Tarcísio convoca uma coletiva e, inexplicavelmente, faz uma defesa inacreditável do PCC ao garantir que a facção não tinha qualquer envolvimento no escândalo das bebidas contaminadas, ainda que ele não tivesse prova alguma em relação a isso. Mais uma vez a coisa ficou muito estranha e as redes gritaram.
E você pensa que acabou? Não, não acabou. Ainda na crise do metanol, agora em outra coletiva, desta vez ao lado dos responsáveis pelas principais empresas do setor no Brasil, Tarcísio lança a frase que passou a ser vista como uma nova versão do “e daí, eu não sou coveiro”, de Bolsonaro, dita durante a pandemia. Para mostrar descontração, embora soasse o tempo todo como desprezo e desrespeito, o governador paulista diz que “só vai se preocupar quando a Coca-Cola passar a ser adulterada”, pois bebida alcoólica “não seria sua praia”, num discursinho moralista intragável, procurando recriminar os cidadãos que bebem. A fala caiu como uma bomba e Tarcísio teve que fazer um pronunciamento literalmente pedindo perdão.
Por fim, a cereja do bolo veio com a atuação de bastidores fundamental do governador no esquema de sabotagem do governo Lula, no qual ele comandou uma rede de parlamentares para derrubar a Medida Provisória dos Impostos, que poderia colocar até R$ 35 bilhões à disposição do Planalto no próximo ano. Dinheiro que iria para programas sociais, obras de infraestrutura, saúde, educação. Pelas declarações de Tarcísio e tendo em vista a distorção de outros integrantes do bolsonarismo, a desculpa dessa vez era a de que o governo Lula “taxa os cidadãos”. Porém, a realidade é bem outra, pois a tributação da MP versava apenas sobre grande investidores, donos de bets e outros ricaços até então praticamente isentos. Na prática, ficou uma pecha inapagável de defensor dos ricos que joga tudo nas costas dos pobres.
O desespero de Tarcísio se completou nesta quinta-feira (9), com a publicação de uma nova pesquisa Quaest. O tal “favorito” para vencer Lula em 2026 não para de se desmanchar como chiclete no asfalto quem. A vantagem do petista, que já era grande, ampliou-se ainda mais em dois ponto, chegando agora a um abismo de 12 pontos percentuais. Foi diante desse cenário de derretimento total de sua imagem que o carioca que governa São Paulo correu para gravar um vídeo de reação, em tom irritado.
A desculpa? A mesma de sempre. Ele disse que tudo que vem ocorrendo com sua crescente perda de popularidade é culpa do PT.
Assessoria/Caminho Político
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