O ano de 2013 começou com a
repetição de velhos problemas e a constatação de outros tantos. Bastou a folha
do calendário virar para nos depararmos com uma incômoda verdade: o país não
tem hoje energia suficiente para sustentar suas atividades. Não eram estas as
férias que Dilma Rousseff esperava ter.
O temporal de más notícias
deste verão veio embalado na ameaça cada vez maior de que o país tenha que
sofrer um racionamento de energia neste ou no próximo ano - quando, para
piorar, ainda haverá a Copa do Mundo. O Brasil está atualmente no fio da
navalha, equilibrando-se entre uma demanda que não para de crescer e uma oferta
que não corresponde ao que o governo prometera.
Os reservatórios das principais
regiões produtoras de hidroeletricidade iniciaram janeiro no menor nível dos
últimos 12 anos: 28,9% da capacidade, abaixo do registrado em igual período de
2001, ano em que o país teve de lidar com a falta de energia em razão da falta
de chuvas. Será preciso cair muita água do céu nas próximas semanas para que as
perspectivas se desanuviem.
Atualmente, as usinas
hidrelétricas e térmicas estão gerando energia no limite de suas capacidades.
Não há qualquer folga, o que indica um péssimo planejamento no setor.
Especialistas como Mario
Veiga calculam em pelo menos 9% o risco de o governo decretar um
racionamento daqui a quatro meses - o dobro do percentual considerado aceitável
nos modelos oficiais.
Entre as razões para o risco de
faltar energia, está o deficiente planejamento do governo para o setor, cuja
concepção atual é toda da lavra da então ministra de Minas e Energia de Lula,
Dilma Rousseff. Como se tornou comum no governo do PT, boa parte das obras prometidas
não sai do papel.
O comitê oficial que monitora o
setor já reconheceu que 55% das obras de geração estão atrasadas - em média,
sete meses em relação ao prazo contratual - e 76% das obras de transmissão têm
atraso médio de 15 meses. Para complicar, obras já prontas, como parques
eólicos na Bahia, não conseguem produzir porque faltam linhas para transmitir a
energia.
A primeira vítima desta incúria
são os consumidores. Com a escassez, a operação do sistema elétrico nacional
tem tido que recorrer a fontes de energia mais caras, como a gerada pelas
térmicas, e os preços no mercado vêm disparando. A consequência virá nas contas
de luz: parte da redução prometida pelo governo não acontecerá.
Segundo publicou o Valor
Econômico na semana passada, "até o momento, dois pontos da queda
prometida de 20% nas contas já foram tolhidos pelo alto custo da geração
térmica. Até março, mantidas as condições meteorológicas atuais, esse impacto
poderá chegar a cinco pontos". Além disso, o governo já admitiu que as tarifas
poderão subir até 3% em 2014 apenas em função do maior acionamento das
térmicas.
Além de trazer uma conta mais
salgada para os consumidores residenciais, a atual crise energética também
derrubou a confiança dos empresários. Eles já não creem que poderão contar com
um fornecimento firme de energia para fazer frente a seus planos de
investimentos.
A maior parte das grandes
empresas já trabalha com a possibilidade de um "racionamento branco", ou seja,
a redução voluntária de consumo para evitar a escuridão total. Com menos
energia, é certo que produzirão menos e o país crescerá menos.
A presidente Dilma acha que
consegue mudar o ânimo dos frustrados empreendedores no gogó. Desde que
interrompeu suas férias na semana passada, ela tem se dedicado a audiências com
pesos pesados da economia para convencê-los a acreditar nas promessas de que o
governo fará sua parte e não faltará energia.
Mas suas novas promessas são tão
consistentes quanto as que a presidente fez nos seus primeiros dois anos de
mandato em relação ao desempenho geral da economia e jamais cumpriu: o PIB que
não cresce, a inflação que não baixa, os investimentos que não acontecem. A
energia inexistente tende a ser apenas mais um capítulo desta saga de
infortúnios.
Instituto Teotônio Vilela
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