Leio no site g1.globo.com que Cuiabá é a 30ª. cidade mais violenta do mundo. Fico sem ação. Sei da violência, mas não a esse ponto. Ontem escutei um aviso de utilidade pública na Rádio CBN, de Cuiabá, orientando as pessoas sobre como agirem diante de um seqüestro. São normas cruéis como, cuidar-se ao entrar no carro e não se distrair ao colocar o cinto de segurança. Não reagir, ficar submisso, não responder, aceitar a fatalidade, entregar as chaves do carro, documentos, telefone celular, compras, mala, maleta, notebook. Uma pessoa da Suiça, se ouvisse as recomendações, pensaria que estava num país em guerra civil.
Neste momento a Nigéria se assemelha a Cuiabá. Lá o grupo terrorista Boko Haran está causando pânico na população. Mas por motivos políticos. No Afeganistão os talibãs estão atacando a sociedade civil em grupos étnicos, mas a motivação é política.
Em Cuiabá a motivação é puramente criminosa. São bandidos da ralé, que assaltam, matam, estupram, roubam carros, cargas, caminhões, lojas de produtos, joalherias, assaltam shopping centers. Dia desses recebi através do Whatsapp um longo diálogo entre dois jovens de 18 anos, ladrões especializados em pick-ups. Eles tem plena consciência do que estão fazendo e, pasmem todos, consideram-se trabalhadores. Um diz para o outro numa linguagem parte cifrada e parte gíria: “meu, vi uma Triton na Avenida Beira Rio (e anexa a foto tirada no celular) bem legal. Os cara não qué se não for GLS”.
Noutro trecho ele conta que está no apartamento da quitinete esperando “a patroa chegar da faculdade pra fazer uma parada”. E vai por aí afora. Outros ladrões são traficantes sem capital. Outros buscam capital pra atender os dirigentes de dentro dos presídios. Numa tradução bem cínica, a sociedade está perfeitamente dominada pelo chamado crime organizado. Na realidade, não é crime organizado coisa nenhuma: é crime oportunista.
Lá no bairro é heroísmo ser criminoso. As moças preferem os “caras” do crime. E os auxiliam pra ganhar status e algum dinheiro. O presídio feminino de Santo Antonio de Leverger é composto na maioria por mulheres que se arriscaram “pelos seus homens”. A sociedade está dominada é parece não haver um plano de contenção da violência.
Aos governantes talvez falta lembrar que lá na Europa ou na Ásia os investidores consultam os mapas da violência antes de se decidirem onde investir. Cuiabá, decididamente, está fora de todas as opções com esses números de violência e com essa fama!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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