
Para FHC, se Lula – membro do Foro de SP, entusiasta de ditadores, que quer censurar a imprensa, controlar a economia, aparelhar órgãos do Estado e perseguir opositores – for candidato, é ótimo para a democracia. Já Bolsonaro – que quer imprensa livre, privatizações e reduzir drasticamente o tamanho do Estado – é um perigo. O ex-presidente tucano já entendeu que a eleição do capitão do Exército e deputado federal para a presidência da República é uma possibilidade, sendo assim, tem dado reiteradas declarações condenando Bolsonaro, além de conclamar o centro e as forças progressistas para barrar o deputado.
O ex-presidente é alguém extremamente preocupado com a própria história, haja vista a quantidade de livros feitos após seu período na presidência sobre a sua vida e pensamento. Sua “mística pessoal” é a de alguém que acredita na democracia e condena a luta armada, mesmo que suas declarações sobre a morte do ditador e assassino Fidel Castro (ou declarações sobre grupos de esquerda que minam a democracia) demonstrem o contrário.
O registro de sua atuação no Brasil também não é diferente. O sociólogo da USP, defensor da resistência civil e oposição pacífica, transportou metralhadoras durante o Regime Militar. Quem revela o caso é o próprio ex-presidente no livro “O improvável presidente do Brasil”, publicado primeiramente nos EUA e traduzido posteriormente para o mercado brasileiro.
Diz o ex-presidente FHC, na página 129 (grifos nossos):
“Dito isso, a resistência civil sem dúvida era uma ideia ligeiramente fora de propósito no contexto fortemente polarizado da época. O que explica que alguns dos meus amigos estivessem, de alguma forma, ligados à resistência armada. Não eram necessariamente guerrilheiros: a fronteira, no caso, não era assim tão clara. Alguns chegavam a pegar em armas, mas outros se envolviam em atividades muito menos declaradas: por exemplo, oferecer um quarto em casa para um rebelde em fuga passar a noite. A vida política e social tendia a ser uma só. Certa vez, eu me vi num carro com um grupo de amigos para entregar uma pequena carga de metralhadoras na casa de alguém. O que era feito com perfeita naturalidade, como se fosse apenas mais uma tarefa do dia. Nem sequer me lembro de ter ficado particularmente nervoso.“
O tucano não revela com quem estava no carro, muito menos para qual grupo foi levada a singela “carga de metralhadoras”. Em seguida, FHC ainda diz que se oporia a participar de “assalto a banco ou algo violento”, mas é nítida a romantização de um acontecimento gravíssimo. Mesmo sem participar de “assalto” ou “algo violento“, o ex-presidente pode ter contribuído para o terror e a morte de brasileiros. As guerrilhas de esquerda no Brasil fizeram centenas de vítimas, quantas pessoas podem ter sido mortas com a “pequena carga de metralhadores” que FHC ajudou a transportar?
Essas respostas, evidentemente, não interessam a nenhuma Comissão da Verdade.
Há outro trecho no mesmo livro que mostra a preocupação de FHC em tratar fatos graves como rompantes juvenis.
Diz o ex-presidente, na página 92 (grifos nossos):
“Um amigo meu, Paulo Alves Pinto, era parente do poderoso general Osvino, que apoiava Jango. Num surto de idealismo juvenil, Paulo, Leôncio Martins Rodrigues, Bento Prato e eu, certa noite, lançamos mãos de revólveres e, já tarde, entramos num carro, rumamos para o aeroporto do Campo de Marte e… quem poderia dizer o que tínhamos em mente? Pensávamos juntar-nos às forças resistentes gaúchas… Pura maluquice. Eu podia ser filho de um general, mas mal sabia disparar um revólver. Tenho para mim que nos deixamos arrebatar pelo momento, horrorizados com o que poderia significar uma ditadura. Naquela noite, fomos forçados a dar meia-volta por uma barreira militar. Poderíamos ter tido pior sorte. E assim terminava, sem incidentes, minha imprudente incursão pela resistência armada – a única tentativa que jamais faria nessa direção.”
Na orelha do mesmo livro, há uma expectativa do ex-presidente quanto ao seu papel na história brasileira:
“Sinto que meu verdadeiro lugar na história só será conhecido daqui a 50 anos. Quando chegar esse momento, se as pessoas puderem lembrar-se de Fernando Henrique Cardoso como o primeiro de uma moderna era de presidentes brasileiros que contribuíram para o país realizasse seu sonho de prosperidade, será o legado mais positivo que posso imaginar.”
Mas por mais que tentem repetidamente reescrever a história, o legado de FHC será o de um político que em todas as ocasiões chaves da política brasileira recente deu sustentação ao “projeto criminoso de poder” da ORCRIM mais perigosa que já passou por nossa República, atuando como articulador e voz da falsa oposição que caracterizou o PSDB em todos os anos de PT no poder.
Esse é FHC.
Editor em ReaçaBlog/cp
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