

"Por um lado, Fidel Castro disse claramente, por ocasião do enterro dos soldados mortos na Baía dos Porcos: 'Esta é uma revolução socialista'... Por outro lado, se deram conta de que o governo dos Estados Unidos constituía uma espécie de ameaça e necessitava de proteção. E que proteção podiam ter? Somente a da outra superpotência", comenta Wulffen.
Em pouco tempo, Cuba chegou a se converter em protagonista do episódio que esteve mais próximo de descongelar a Guerra Fria para desencadear uma guerra atômica, em 1962: a crise dos mísseis.
Washington e Moscou conseguiram evitar a catástrofe, ignorando Havana, mas o governo de Fidel Castro não se conformou com o papel de coadjuvante no cenário internacional. Ao contrário, apostou em exportar a revolução.

O colapso soviético
Anos mais tarde, garantir a sobrevivência do próprio regime passou a ser a primeira prioridade, quando o colapso da União Soviética deixou o país caribenho à beira do abismo.

Apesar de a ideia da propagação da revolução armada também a outras regiões da América Latina ter desaparecido após a morte de Che Guevara, não ocorreu o mesmo com a dimensão internacional do projeto cubano.
"Cuba influenciou e continua influenciando outros países com sua educação, com seus serviços médicos. Enviou muitos médicos ao Terceiro Mundo. Isso é louvável. Mas, ao mesmo tempo, sempre também há o aspecto da propaganda, de querer mostrar Cuba como modelo aos países em desenvolvimento", avalia Wulffen.
O componente ideológico não mudou com a transferência de poder de Fidel a Raúl Castro. Um exemplo é o apoio ao chavismo e à Aliança Bolivariana, união idealizada por Hugo Chávez para fomentar a ajuda mútua entre países da América Latina e do Caribe. "Mas são casos de fracassos, sobretudo a Venezuela", aponta o escritor.
Mesmo assim, a perda virtual do apoio econômico da Venezuela, imersa em sua própria crise, não encontra Cuba com o mesmo grau de dependência com que surpreendeu a ilha em seu dia da hecatombe soviética.
Com Raúl Castro no comando, Havana conseguiu se posicionar de outra forma no mundo e no continente, a ponto de ter sido anfitriã dos diálogos de paz colombianos que levaram as Farc a entregar suas armas.
Com Raúl, Cuba também viveu o momento que passará à história como o grande marco de seu governo: o degelo com os Estados Unidos, conduzido por um presidente Barack Obama convencido de que a política de isolamento e sanções aplicada até então não tinha tido resultado efetivo – nem para derrubar o regime, nem para por fim às violações de direitos humanos e introduzir uma abertura à democracia.
"Lamentavelmente, o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump não segue essa política. Ao contrário, recai no que havia antes", sinaliza Wulffen. E isso, na sua opinião, será contraproducente para aqueles que esperam mudanças estruturais em Havana. "Acho que vai ser muito difícil para o sucessor de Raúl mudar a política, porque os Estados Unidos não lhe deixam margem para ação", afirma o embaixador, convencido de que o que acontecer no futuro dependerá muito da situação internacional: "O novo conflito leste-oeste, entre Estados Unidos e Rússia, não é um clima propício para mudanças em Cuba".
Emilia Rojas Sasse (rk)cp
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