
A Anastácia que não se deixou escravizar, insiste e vive em tantas de nós. Aqui lembrada na imagem de uma guerreira que representa uma figura deslumbrantemente humana: Marielle Franco. Essa que com a vida pagou pela nossa coragem de existir e resistir, dizendo que: Nossos Passos Vem de Longe, Que Eu Sou Por Que Nós Somos. E assim, Marielle renasce todos os dias pela garra e resistência das Mulheres Negras, nos seus 30 anos de rearticulação. Vida Longa as Mulheres Negras.
Não sabemos até quando poderemos ver o sacerdote erguer a taça, pois nos encontramos em um Estado Teocrático, caminhando a passos largos para fundamentalismo religioso. No qual a prática de racismo religioso tem sido uma constante, a exemplo da Lei Gaúcha 12.131/2004, deixando a nitidez de seu caráter racista e de violência contra irmãos de Matriz Africana, uma condição exercida cotidianamente em nome Deus. Pois, como cantava o saudoso Almir Guineto, tudo que se faz na terra se coloca deus no meio: deus já deve estar de saco cheio.
O momento histórico em que vive nosso país, de avanço da extrema direita, do fascismo, e na sequência ainda mais retrocesso dos direitos individuais e coletivos, sociais e trabalhistas. Realidade que merece nossa reflexão, não para nos apontarmos e nem para nos remexermos em culpas, e em dificuldades que nos permearam historicamente, mas de entendimento daquilo que temos como projeto e que ainda precisamos, com toda a diversidade e antagonismo continuar com bandeira em punho. Isso significa uma maior atenção às pautas de diversidade que não pode ter o signo de identitariedade/multiculturalismo, como um instrumento social negativo, mas sim como luta de classes, de uma busca incessante daquilo é essencial/fundamental: o direito de SER humano, o direito a dignidade, o direito a igualdade de oportunidade e condição.
Desta forma a conjuntura atual não permite ao nosso povo viver uma Kizomba. Não temos Kizomba, não temos Constituição, essa última tem sido rasgada a todo tempo nos últimos períodos. E no ano em que deveríamos comemorar uma vitória importante, um marco civilizatório. Temos em vista o desmonte do estado, das estruturas de conhecimento e de defesa da cidadania e dos direitos humanos. E no ano em que se completa os 130 anos da Abolição inconclusa, tudo o que mais precisamos digna Clementina, é de um partido popular.
Que a magia dos orixás, a força da nossa cultura, a nossa arte, bravura e o bom jogo de cintura fará valer nossos ideais. Nossa sede ainda é a nossa sede de que o apartheid se destrua, e com ele toda ódio sistêmico e letal que historicamente se constitui contra a população.
Valeu Zumbi, que a Lua de Luanda seja farol nos nossos caminhos!
Mônica Custódio
Secretária Nacional de Promoção da Igualdade Racial da CTB
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