
Com a grande recepção para o general de quatro estrelas brasileiro, o dirigente chinês deixou claro que o aprecia como representante fidedigno do governo de Jair Bolsonaro. Isso é plenamente compreensível, pois o presidente tem se se colocado incondicionalmente como aliado a serviço dos Estados Unidos, e durante a campanha presidencial criticou o papel chinês na economia nacional ("A China não compra no Brasil, a China compra o Brasil").
Mourão, por sua vez, adota uma abordagem pragmática diante do mais importante parceiro comercial e investidor do país. Nessa visita, ele se concentrou no controle de danos e normalização das relações bilaterais. Pois, antes mesmo dos ataques de Bolsonaro, as relações políticas entre os dois Estados estavam basicamente adormecidas, devido à crise brasileira.
Mourão revitaliza agora os fóruns e canais de cooperação existentes. Juntamente com o vice-presidente da China, Wang Qishan, pela primeira vez em quatro anos a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação voltou a se reunir. Na bolsa de valores de Xangai, que há muito já coopera com a de São Paulo, ele lançou um fundo baseado no índice de ações brasileiro.
Houve, ainda, uma sessão do New Development Bank dos países do Brics, onde se discutiu a abertura de uma filial em São Paulo. Mourão visitou a Academia de Viagens Espaciais chinesa, com promessas recíprocas de reativar o acordo para desenvolvimento de engenharia aeroespacial, existente há 30 anos, em cujo contexto os dois países construíram juntos seis satélites.Mourão evitou intencionalmente inaugurar novos capítulos nas relações bilaterais. Mantendo-se diplomaticamente vago, sobretudo em temas delicados, ele declarou que o Brasil saúda a Belt and Road Initiative da China, ou seja, a Nova Rota da Seda, com seus maciços investimentos em infraestrutura. Porém não é necessário o país se associar a ela, ressalvou, já que todos os muito bem-vindos investimentos chineses podem ser realizados no âmbito de programas existentes e da comissão bilateral.
Quanto ao tema Huawei e a participação do conglomerado chinês na expansão da rede celular 5G brasileira, observou que não se deve demonizar a tecnologia chinesa, num momento em que os EUA e também a Austrália proibiram as empresas nacionais de utilizarem a tecnologia da operadora chinesa. A Europa, até o momento, mantém-se neutra na questão.

O momento escolhido para tais exigências é favorável: em meio às crescentes disputas comerciais com os EUA, a China busca, por todo o mundo, fornecedores confiáveis para sua indústria, assim como novos mercados. Também as empresas americanas que não querem mais produzir na China, devido às sobretaxas para o mercado dos EUA, podem agora considerar a transferência de suas unidades para o Brasil.
No entanto está totalmente em aberto como a visita de Mourão será interpretada pelo presidente Bolsonaro. Antes, este enfatizara que seu vice viajava para a China com pleno poder decisório. Contudo é possível que, com um de seus tuítes, ele destrua de um golpe só os resultados positivos alcançados. Pois seu círculo mais próximo – seus filhos, o ministro do Exterior Ernesto Araújo, seu guru ideológico de tendência ultradireitista Olavo de Carvalho – vê a China como o grande mal da humanidade, uma inimiga do Ocidente cristão.
Apesar de tudo, em breve o presidente terá que se decidir por uma linha de conduta em relação a Pequim, e não pode delegar a tarefa a seu vice: no segundo semestre de 2019, está prevista uma visita oficial de Bolsonaro à China; e em novembro Xi Jinping participa do encontro do Brics em Brasília.
Alexander Busch (av)Caminho Político
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