
“Embora tenha topado amaciar o presidente aqui e ali no Twitter, em lives do Facebook e até publicamente, Moro ainda não se sente entre os seus. Quase não tem interlocutores no governo. Conversa com poucos na Esplanada, entre eles Paulo Guedes e Eduardo Villas Bôas. Com o restante, a relação é protocolar. Sente-se especialmente desconfortável com o linguajar de Bolsonaro sobre uma série de assuntos… Em seu nono mês como ministro, Moro está exaurido”.
No manicômio de Brasília, ele teria virado alvo da inveja do “capetão” demente. “A insatisfação de Bolsonaro com Moro começou quando o presidente, em 26 de maio, no domingo em que convocou a população para ir às ruas defender seu governo, deparou com um boneco inflável do Super-Moro. Ninguém se lembrou do Super-Bolsonaro. Aliás, não havia nem um chaveirinho de lembrança com o rosto do Mito. As pesquisas, que Bolsonaro diz menosprezar, deixaram-no ainda mais enciumado. Moro era e ainda é bem mais popular que ele”.
O processo de fritura, porém, seria mais antigo. “O desconvite para a especialista em segurança pública Ilona Szabó, a Funai goela abaixo, a retirada do Coaf do Ministério da Justiça e a posterior reformulação do conselho, a desautorização pelas indicações no Cade, a demissão via imprensa do delegado que comandava a PF no Rio de Janeiro, a ordem para que a tramitação do pacote anticrime ficasse mais lenta e até o veto a uma propaganda do projeto… A lista de vezes em que as asas de Moro foram cortadas é extensa. Nenhum outro ministro foi tão podado por Bolsonaro quanto Moro”.
Nos últimos dias, o clima se agravou ainda mais. “Havia ao menos a perspectiva de poder vetar algum nome polêmico para ser o novo procurador-geral da República e, claro, ser dele a escolha do atual comando da PF. A primeira já era: Moro não foi ouvido sobre Augusto Aras, que estaria longe de ser seu nome para o cargo. Muito pelo contrário. Com isso, manter-se como o responsável por escolher quem dirige a PF se tornou hoje a grande trincheira de Moro. E pode ser a última”.
Antes de ser indicado pelo ministro para a superintendência-geral, Maurício Valeixo chefiou a Polícia Federal em Curitiba durante a midiática Lava-Jato e sempre foi muito ligado ao “juizeco” Sergio Moro, dando total respaldo aos seus abusos de autoridade. Agora, porém, Jair Bolsonaro resolveu dar “uma arejada” no órgão, talvez por temer rasteiras do seu futuro rival. Sem vacilar, o “capetão” mostrou quem manda no laranjal ao humilhar publicamente o magoado Sergio Moro, mandando-o calar sua boca: “Quem manda sou eu”.
Guilherme Amado garante na revista Época que o ministro pode cair e opina: “No Congresso, já existe quem cogite romper com o governo caso Moro saia, e Bolsonaro já foi alertado mais de uma vez sobre esse risco. Sem o apoio dos lavajatistas, o governo perderá uma de suas pedras fundamentais. E ficará ainda mais vulnerável a ventos fortes”. De fato, a saída de Sergio Moro, que foi transformado em herói pela mídia falsamente moralista, representaria um forte abalo no laranjal. Junto com os generais rancorosos e os abutres financeiros, ele ainda é um dos pilares do governo fascistoide que se desgasta rapidamente na sociedade.
Altamiro Borges Jornalista, presidente do Centro de Estudos sobre Mídia Alternativa Barão de Itararé
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