Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
Av. André Maggi nº 6, Centro Político Administrativo

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
X SIMPÓSIO SOBRE DISLEXIA DE MATO GROSSO “TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO”

sábado, 11 de abril de 2020

"CORONAVÍRUS: Fato e ficção na resposta da Alemanha à covid-19"

Homem de máscara sanitária empunha câmera fotográficaBaixa taxa de letalidade do coronavírus na Alemanha tem sido motivo de admiração pela mídia internacional. Mas é preciso analisar melhor os números e conferir se os elogios procedem.Neste sábado (11/04), a Alemanha havia registra mais de 122 mil casos confirmados de infecção pelo coronavírus Sars-Cov-2. No entanto, a taxa de mortalidade da pandemia no país permanece em torno de 2,2%, de acordo com especialistas em controle de doenças dados em tempo real do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins (JHU), nos Estados Unidos. A diferença considerável em relação à letalidade nos parceiros da União Europeia Espanha (10%) e Itália (12,8%) recebeu muita atenção da mídia internacional, que divulgou uma imagem otimista da gestão de crise pela Alemanha. Contudo é preciso analisar algumas das principais narrativas sobre a resposta alemã ao novo coronavírus, e por que a taxa de mortalidade parece tão comparativamente baixa ‒ e se se enquadra com a realidade.
Alegação: Em relação à sua população, a Alemanha está realizando testes do coronavírus numa das mais altas proporções do mundo, além de testar indivíduos com sintomas leves ou sem sintomas.
Realidade: O Ministério da Saúde alemão declarou estar testando 300 mil indivíduos por semana num país de 82 milhões, portanto já realizou muito mais testes do que a Itália, o epicentro europeu da pandemia. Embora trata-se de um grande esforço, se cada residente do país for examinado uma vez, levará três anos para testar toda a população.
A comparação das taxas de testes em nível mundial é extremamente difícil, pois alguns países, como os EUA, não possuem um registro central de todos os exames realizados. Para complicar ainda mais a questão, há números conflitantes, mesmo dentro de cada país, uso de critérios temporais diferentes e atrasos nos relatórios. Esses fatores dificultam ainda mais acompanhar e dizer com certeza qual país tem a maior taxa de testes.
Além disso, a agência alemã de controle de doenças Instituto Robert Koch (RKI) criticou os métodos nacionais de testagem, reclamando, por exemplo, que muitos indivíduos assintomáticos estariam sendo examinados. O RKI pediu o fim dessa prática, alegando que a Alemanha poderia correr o risco de ficar sem kits. Portanto, atualmente, os assintomáticos não estão sendo recomendados para testes do novo coronavírus.
Alegação: A Alemanha está considerando a emissão de "certificados de imunidade" para permitir que indivíduos que se recuperaram da covid-19 se movimentem livremente.
Realidade: A origem desse boato parece ser uma citação de um cientista ‒ entrevistado pela revista alemã Der Spiegel e relatado pela Deutsche Welle ‒, sugerindo tais certificados em conexão com um projeto de pesquisa. Isso foi então noticiado pelos sites de notícias The Telegraph, do Reino Unido, e Business Insider, dos EUA como política do governo alemão.
Os virologistas alemães estão atualmente trabalhando num teste para determinar se um paciente recuperado possui anticorpos que o torna imune ao vírus. No entanto, o consenso científico no momento é que não há como medir a duração ou força dessa imunidade, com estimativas variando de algumas semanas a um ano. Portanto o governo alemão não considera tais certificados um método sério para combater a propagação da doença.
Alegação: A taxa de mortalidade da Alemanha é baixa devido ao planejamento avançado e um excelente sistema de saúde.
Realidade: A Alemanha possui um sistema de saúde pública robusto que, por enquanto, parece estar resistindo à tempestade. Como em muitos países, no entanto, os terapeutas respiratórios e especialistas da área de terapia intensiva relatam excesso de trabalho e enfrentam o risco de ficar sem equipamento de proteção. Embora a Alemanha tenha hospitais suficientes, eles sofrem de uma falta crônica de pessoal, e agora estudantes de medicina estão ajudando nas unidades mais sobrecarregadas.As estatísticas sobre o número de leitos de tratamento intensivo na Alemanha são frequentemente mencionadas como uma prova da melhor preparação do país para lidar com a atual crise. No entanto, autoridades alemãs relatam números díspares. A Associação Alemã de Hospitais atesta 40 mil leitos de terapia intensiva, ou cerca de 49 para cada 100 mil dos 82 milhões de habitantes da Alemanha. O banco de dados que registra os leitos de terapia intensiva indica 24 mil, o que representa apenas 29 leitos para cada 100 mil habitantes.
Quanto ao planejamento avançado, as normas de isolamento e distanciamento social da Alemanha foram adotadas mais de uma semana depois de a França, Áustria e Espanha imporem políticas semelhantes. Apesar do que estava acontecendo na Itália no início de março, a Alemanha foi realmente muito mais lenta em sua reação à pandemia do que seus vizinhos.
No entanto, por trás da baixa taxa de mortalidade na Alemanha, há uma confluência de muitos outros fatores. Isso inclui o sistema de governo federalista, que coloca centenas de autoridades de saúde supervisionando a resposta à pandemia nos 16 estados alemães, em vez de uma resposta centralizada do Ministério da Saúde em Berlim.
Alegação: O governo dos EUA está tentando roubar as vacinas da Alemanha.
Realidade: Uma das primeiras histórias do coronavírus da Alemanha a ser amplamente divulgada globalmente veio de um artigo do semanário Welt am Sonntag, que afirmava que o governo do presidente Donald Trump estava tentando cooptar a empresa biofarmacêutica Curevac, sediada em Tübingen.
O jornal citou uma fonte anônima alegando que Washington estava oferecendo um incentivo financeiro substancial para desenvolver uma vacina "só para os EUA". A citação foi reproduzida pelo jornal The Guardian e outros veículos de notícias. Desde então, no entanto, o fato foi negado pelo embaixador dos EUA na Alemanha, Richard Grenell, pelo ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, e pela própria Curevac.
Além disso, a Curevac é apenas uma das dezenas de empresas alemãs que correm para criar uma vacina, e a Alemanha é apenas um dos muitos países cuja comunidade científica está agora focada numa imunização contra a covid-19.
Alegação: Uma razão para a baixa taxa de mortalidade da Alemanha é que os alemães aderiram imediatamente às regras de distanciamento social.
Realidade: É uma crença equivocada que circula nas redes sociais, provavelmente baseada em velhos estereótipos do caráter nacional alemão, não em provas reais. Não há estatísticas concretas, mas evidências anedóticas generalizadas sugerem o contrário.
Quando em 18 de março a chanceler federal Angela Merkel sugeriu que os alemães ficassem em casa o máximo possível e evitassem se reunir em grupos, milhares de usuários das redes reclamaram, porque fazia sol e as sorveterias e cafeterias permaneceram abertas. Nada parecia ter mudado na vida pública além da falta de papel higiênico.
Mesmo após o fechamento de restaurantes e lojas não essenciais e multas por reuniões de mais de dois, as regras ainda estão sendo desrespeitadas. A polícia berlinense teve que pedir aos cidadãos preocupados que parassem de ocupar o telefone de emergência com relatos de infrações, e a cena de clubes local continua firme e forte, promovendo raves subterrâneas clandestinas.
Com o comentário "Distanciamento social (?) em Berlim hoje", no domingo, 5 de abril, um tuíte mostrava como os parques da capital alemã continuam sendo frequentados.
Elizabeth Schumacher (ca)Caminho Político
Edição: Régis Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário