Gesto simboliza rompimento de Pyongyang com Seul e expressa frustração com fracasso da reaproximação e com a manutenção de sanções internacionais. Irmã de Kim Jong-un havia alertado para "cena trágica" de destruição.Em um gesto dramático de rompimento de suas relações com a Coreia do Sul, a Coreia do Norte explodiu nesta terça-feira (16/06) o escritório de
intermediação entre os dois países em Kaesong, próximo à fronteira, elevando as tensões na Península da Coreia e minando os esforços recentes de reaproximação entre as duas nações. A explosão do edifício foi confirmada pelo Ministério da Unificação em Seul. Imagens divulgadas pela agência de notícias sul-coreana Yonhap mostram uma fumaça se erguendo do que seria um complexo de edifícios em uma área que faz parte de um parque industrial desativado, onde se localizava o escritório ide intermediação.Pyongyang ameaçara demolir o local ao expressar descontentamento com o fracasso do país vizinho em impedir que ativistas enviassem panfletos de propaganda através da fronteira.
O país também vinha manifestando sua frustração com o fracasso das negociações com Seul e Washington e das tentativas de persuadir o governo americano a aliviar as pesadas sanções contra a Coreia do Norte. O regime também viu frustradas suas ambições de reavivar projetos econômicos com o sul.
No último sábado, Kim Yo-jong, a influente irmã do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, alertou que Seul testemunharia em breve "uma cena trágica do inútil escritório de intermediação Norte-Sul sendo completamente destruído", como uma forma de retaliação dos militares norte-coreanos contra a Coreia do Sul.
"Acho que é hora de romper com as autoridades sul-coreanas", disse Kim Yo-jong, citada pela agência de notícias estatal KCNA. Com a aprovação de seu irmão, do partido e do Estado, ela disse haver instruído as autoridades encarregadas de "assuntos com o inimigo a tomar a próxima ação".O primeiro escritório de ligação entre os dois países foi aberto em 2018 com o objetivo de melhorar as comunicações, abaladas desde a divisão da Península Coreana após a Guerra da Coreia. Os dois lados estão tecnicamente em guerra desde o fim do conflito, encerrado apenas com um armistício em 1953, sem que fosse substituído por um tratado de paz.
As relações bilaterais pareciam florescer com a abertura do escritório e uma série de medidas de reaproximação, depois de Coreia do Norte aceitar negociar sobre o seu programa de armas nucleares em troca do alívio das sanções internacionais. A aproximação do país com o Ocidente culminou com o encontro entre Kim Jong-un e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Cingapura, em junho de 2018.
Entretanto, as negociações envolvendo o programa nuclear de Pyongyang estão travadas desde o colapso da segunda reunião entre os dois líderes em Hanói, no Vietnã, no início do ano passado. O impasse deixou os norte-coreanos frustrados com a falta de concessões.
Os encontros de cúpula entre os líderes das duas Coreias, num dos quais Kim e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, cruzaram simbolicamente de mãos dadas a linha de fronteira entre os dois países, tiveram pouco ou nenhum resultado. Pyongyang indicou que não teria a intenção de aceitar algumas exigências dos EUA e da Coreia do Sul, como o abandono de suas ambições nucleares.
Desde então, a Coreia do Norte vem adotando uma postura cada vez mais crítica a Seul e Washington e realizou nos últimos meses uma série de testes de mísseis. Observadores avaliam que o regime falhou em adotar medidas substanciais rumo ao desmantelamento de seu programa nuclear, o que era a principal reivindicação dos americanos para negociar o alívio das sanções.
No mês passado, soldados de ambos os lados trocaram tiros na zona desmilitarizada na fronteira que divide a península. Pyongyang acusa Seul de provocar o incidente, que agravou ainda mais as tensões.
Recentemente, as Forças Armadas da Coreia do Norte ameaçaram tomar a zona desmilitarizada. O Estado-Maior do Exército Popular da Coreia disse que avalia uma recomendação dos líderes do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte para avançar sobre as áreas de fronteira não especificadas, o que "transformaria a linha da frente numa fortaleza". Pyongyang ameaçou ainda abandonar um acordo militar bilateral de 2018 que visa reduzir as tensões na fronteira.
RC/efe/lusa/dpa/cp
Nenhum comentário:
Postar um comentário