
Há quem considere anti-intelectual remover qualquer monumento, e argumente que essas figuras representavam os valores de sua época. Mas, e os valores de nossos tempos? Até que ponto o passado ainda controla o nosso presente?
Numa época em que cidadãos negros ainda sofrem por todo o mundo, essas estátuas – assim como as ruas com nomes de racistas – não são meros monumentos. Elas lembram aos racistas que gente que demonstrou desprezo por outros é imortalizada em bronze ou marfim. As pessoas de cor são forçadas a lembrar das coisas terríveis que os racistas fizeram.
Para mim, enquanto mulher negra, remover os símbolos do racismo é um ato necessário, que devia ter sido feito há muito tempo. No início de junho, a arqueóloga Sarah Parack tuitou sua "dica quente" sobre como derrubar um obelisco, desencadeando uma avalanche de críticas. Alguns a acusaram de encorajar a destruição da história; outros, de destruir monumentos, como fez o "Estado Islâmico" (EI).
Exigir a remoção de monumentos não é nem um pouco como a destruição pelo EI, que visava espalhar medo e executar atos de terrorismo. Pelo contrário: os manifestantes estão reivindicando a remoção de signos de opressão racial.
O derrubamento de estátuas tampouco apaga a história. É antes um protesto político contra a celebração de uma história ou presente comuns, em que um lado ainda sofre as consequências daquela história. Quem alega que remover estátuas é destruição histórica esquece que história é compartilhada: sempre há dois lados – ou mais.
Consideremos a Mohrenstrasse em minha cidade, Berlim. Uma amiga negra me disse que passa todos os dias com o metrô U2 pela estação "Rua do Mouro", a rua dos negros. Mohr é a palavra alemã mais antiga para as pessoas de cor. Ela tem uma conotação negativa, historicamente era usada para os criados negros. Minha amiga disse que isso a faz sentir-se mal. Ela perguntou: "Por que esses nomes ainda existem?"
O racismo ainda não é história. A ferida ainda está aberta; ela nunca sarou, e nunca vai sarar se parques e universidades forem decorados com estátuas de mercadores de escravos e colonialistas. Especialmente quando a história mostrou que esses indivíduos estiveram envolvidos em coisas terríveis.
Enquanto o racismo ameaçar nossos sentimentos, nossas oportunidades e nossas vidas, tais figuras jamais poderão ser história. Remover esses símbolos, no entanto, pode desconstruir o racismo. Quem argumenta para proteger símbolos de um passado histórico racista, impede que o futuro seja melhor.
"Gatilhos" coloniais, racistas ou escravagistas são uma barreira visível à descolonização e reconciliação, pois consagram a supremacia branca em espaços públicos.
Decidir se estátuas coloniais devem cair ou nomes de ruas ser mudados não é apenas uma questão de história. Trata-se de uma chave no processo de encarar as injustiças existentes, a fim de trabalhar na direção de descolonizar o futuro.
Wafaa Albadry (av)Caminho Político
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