Ao libertar 2 mil detidos nos protestos em Minsk, vice-ministro do Interior bielorrusso assegurou não haver maus-tratos. Três presos contam à DW uma história de surras, humilhações, eletrochoques e arbitrariedade. "Eles espancavam e perguntavam: 'Então, nós somos fascistas?' Quando estão te enchendo de cacetadas, você certamente não vai dizer: 'Claro que vocês são fascistas!'" Quem conta é "Andrei", que não quer ter seu nome verdadeiro revelado. "Mas então o que é que vocês são", pergunta o bielorrusso, dirigindo-se às forças de segurança que maltrataram os presos, "se o trabalho de vocês é surrar gente, e vocês ainda por cima se divertem?" Ele é um dos quase 7 mil cidadãos detidos em Belarus durante os protestos após as eleições presidenciais.
Eletrochoque nos rins
Pavel Chudka foi preso na noite de 10 de agosto em Minsk. Depois de já estar caído no chão, os agentes de segurança ainda o torturaram com eletrochoques na região dos rins. "É certo que não deixa marcas visíveis, mas eu ainda sentia os choques elétricos três a cinco minutos mais tarde, nem conseguia andar."
Sua garganta e mandíbula inferior ficaram tão tensas, que ele não podia falar, e mais de um dia e meio depois não conseguia engolir; até hoje as mãos lhe tremem. E aos maus-tratos físicos somou-se a humilhação: "E aí, está gostando?", gritavam seus algozes. "Quer mais? Vai agora para a rua protestar?"
Em seguida, Pavel foi levado à prisão da rua Okrestina. Entre as centenas de manifestantes lá reunidos, viu muitos que também haviam apanhado. Foi forçado a esperar no pátio interno do prédio, em posições dolorosas.
"Você fica ajoelhado por duas horas, com as mãos atrás da cabeça, e a cabeça no chão. Ou se apoia numa parede com as mãos e a cabeça." A cada 20 minutos, aproximadamente, os policiais ordenavam aos presos para engatinharem de uma parede à outra, a uma distância de 20 a 30 metros.
No tempo em que esteve detido, uma ambulância passou quatro vezes, mas os paramédicos foram impedidos de entrar. O presídio estava superlotado: "Numa cela de dez metros quadrados ficavam 25 pessoas, também menores de idade que mais tarde foram os primeiros a ser libertados."
Cara no chão e atas falsas
"Os vigias andavam entre eles, para cima e para baixo, gritando. Nós, recém-chegados, também tivemos que nos deitar, levamos cacetadas e nos jogaram água." Ele permaneceu cerca de três horas no chão. Apesar de trazer hematomas nas pernas e nas costas, considera-se "um dos sortudos": "Eu vi gente saindo de lá que estava muito mal mesmo."
Os presos também tiveram que endossar atas de interrogatório, conta Andrei: foi-lhes apresentado um texto impresso de que constava que o detido "participou de ações não autorizadas, gritou slogans de provocação". Quem se recusasse a assinar, era levado para a sala ao lado e apanhava mais, até ceder.
Mais tarde, os presos foram trancados em celas lotadas, sem sequer receber água para beber. Na manhã seguinte, Andrei foi transferido para a prisão na Okrestina, onde voltou a ser espancado, só sendo libertado em 13 de agosto.
"Que morram de sede!"
Ele sequer participara de uma manifestação, conta, foi simplesmente arrancado de seu carro. "Ficamos presos num engarrafamento. Uns homens de escudos e cassetetes vieram até nós, pensei que fossem da tropa especial das forças internas. Eles nos mandaram sair do carro e entregar nossos celulares, para conferir se a gente levava fotos ou vídeos dos protestos."
Mikhail tinha um vídeo em que manifestantes portavam a bandeira branca e vermelha que até 1995 foi o pavilhão nacional de Belarus, e atualmente é usada por partes da oposição. Ele foi imediatamente detido.
"Os soldados que me levaram me aconselharam a ficar quieto. Por isso não me bateram. Outros foram espancados brutalmente no furgão de transporte. Do meu lado, estava um homem que nem conseguia mais falar. Ele só gemia baixinho e parecia que não se sustentava sozinho nas pernas."
Na delegacia Leninskom, Mikhail também presenciou surras a cacetadas e socos. Entre os presos viu quatro mulheres e um adolescente. Ele passou a noite do lado de fora, com o rosto para o muro e algemado. Embora estivesse tonto, não deixaram que se sentasse, e não lhe deram nada para beber. Um dos vigias gritou: "Tirem a água deles, deixem morrer de sede!"
Ao ser libertado pela manhã, Mikhail reconheceu que, apesar de tudo, sua detenção fora relativamente inofensiva, comparado a tudo o que presenciara.
Tatyana Nevedomskaya (av)Caminho Político
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