
"Atirei nele", declarou E. em depoimento lido por seu advogado no início do julgamento em um tribunal de Frankfurt. No testemunho, ele descreve sua ação como covarde e cruel.
"Sinto muito, sinto muito, sinto muito", afirmou em depoimento aos familiares de Lübcke. "Ninguém deve morrer por causa de sua religião; ninguém deve morrer por suas opiniões ou sua origem", declarou. Entretanto, o pedido de desculpas não pareceu impressionar a viúva e os dois filhos da vítima, presentes no tribunal.
Lübcke se tornou alvo dos extremistas de direita em 2015, ano em que a Alemanha lidava com um enorme fluxo de refugiados que chegavam em busca de abrigo, fugindo de conflitos ou da pobreza em seus países de origem.

Esta foi a terceira vez em que E. confessou o crime. Desta vez, porém, ele surpreendeu ao usar palavras diretas, combinando suas declarações iniciais à polícia com outra versão dada por ele posteriormente, em que jogava a culpa sobre o outro acusado pelo crime, identificado como Markus H. Entretanto, no depoimento desta quarta-feira, ele assumiu ter sido o autor do disparo que matou Lübcke.Em sua declaração ao tribunal, E. contou o que o levou a assassinar Lübcke em sua casa em Wolfhagen-Istha, próximo à cidade de Kassel, onde o político da CDU atuava como chefe do conselho administrativo.
O acusado atribuiu o processo de radicalização pelo qual passou à influência de Markus H. "Ele me radicalizou, manipulou e instigou", afirmou. "Permiti que isso acontecesse comigo." O amigo teria adquirido a arma e ambos treinaram tiros em uma floresta. "Ele sempre dizia que condições semelhantes à de uma guerra civil iriam prevalecer em breve na Alemanha [...] e sobre como o estilo de vida ocidental na Alemanha deveria ser defendido da islamização."
Ernst declarou que não se considera um neonazista, e que se deixou levar pela narrativa de Markus H., que teria falado repetidas vezes sobre o fato de o governo Merkel representar uma ameaça à liberdade dos cidadãos.
Certa vez, durante a prática de tiros na floresta, Markus H. teria colocado sobre o alvo uma fotografia de Merkel e depois outra de Lübcke, a quem teria chamado de "traidor do povo" e "marionete dos interesses judaicos". Ele teria dito que o político local, ao contrário de Merkel, podia ser abordado com facilidade.

"Você o ameaça com a pistola enquanto ou bato nele e lhe digo qualquer coisa sobre a imigração", teria dito Markus H. Ernst afirma que seu amigo o instruiu para atirar caso Lübcke se movesse.
Na varanda, ele apontou a arma contra Lübcke a curta distância. "Não se mexa", teria dito, enquanto o político se levantava. Ele se aproximou e empurrou a vítima de volta para a cadeira. Quando a vítima se moveu novamente, ele puxou o gatilho. "Atirei", disse no depoimento. Logo em seguida, os dois fugiram do local.
Passado problemático
Em sua declaração, E. pediu desculpas diversas vezes aos familiares de Lübcke, afirmando que sua ação é irreparável, mas que desejaria que fosse possível desfazê-la.
Ele afirmou que se submeterá a um programa para a reeducação de extremistas e que sofre por estar afastado de sua família. O fato de sua filha de 16 anos não querer manter contato com ele lhe causa muita dor, disse.O acusado revelou ainda que seu pai era um alcoólatra violento que agredia sua mãe, e que as condições em sua casa lhe causaram danos psicológicos. Seu ódio por estrangeiros cresceu durante suas passagens pela prisão em razão de outros delitos, incluindo um ataque a faca contra um imã turco em Wiesbaden, em 1992. Ele diz que os presos estrangeiros o agrediram quando descobriram o motivo pelo qual ele estava detido.
Depois de sair da prisão, Stephan teria frequentado reuniões da legenda extremista de direita Partido Nacional Democrático (NPD) e de outras organizações radicais.
Ele, porém, diz que abandonou esses grupos por ter sido atacado várias vezes pelo fato de sua esposa ser de nacionalidade russa. Ele conheceu Markus H. em seu local de trabalho e, segundo afirma, sucumbiu às ideias do homem a quem se referiu como "amigo e um tipo de pai substituto".
O julgamento de Stephan E. está programado para durar até outubro.
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Caminho Politico
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