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segunda-feira, 22 de março de 2021

Há 100 anos, jogadores negros eram excluídos da Seleção

Entre 1921 e 1922, após recomendação do então presidente Epitácio Pessoa, apenas atletas brancos representaram o Brasil. Uma Seleção inteiramente branca não voltou a se repetir, mas o racismo no futebol permanece. Em 1919, Pixinguinha – um dos maiores gênios da música brasileira – compôs um choro que se mistura com a história do futebol. É o clássico Um a Zero.
A canção foi inspirada por um evento marcante: o primeiro título importante da seleção brasileira, naquele mesmo ano. Foi no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, contra o Uruguai. O campeonato era o Sul-Americano, a atual Copa América. O placar você provavelmente consegue adivinhar: 1 a 0.
As poucas imagens disponíveis daquele dia – não havia rádio ou televisão – mostram uma multidão amarrotada no estádio; seriam mais de 20 mil pessoas. A história diz que houve festa nas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Era o início da popularização do futebol no Brasil. A modalidade se tornava um fenômeno de massas.
O primeiro craque do Brasil
O autor do gol daquele 1 a 0 se tornou o primeiro ídolo do futebol brasileiro: Arthur Friedenreich. O nome rebuscado vinha dos avós, imigrantes alemães. Fried, como era chamado, herdou os olhos verdes do pai. Da mãe, Mathilde, uma professora brasileira, puxou a pele negra.
Luiz Carlos Duarte, jornalista e biógrafo do jogador, descreve o esporte na época da seguinte forma: "O futebol era majoritariamente branco. Eram times da elite, formados na maioria por brancos, as arquibancadas eram tomadas por pessoas da elite." Mesmo assim, a imensa qualidade técnica de Friedenreich e o seu gol naquela final "fizeram seu nome ser propagado pelo Brasil inteiro", conta Duarte.
Depois do jogo, a torcida invadiu o campo e o levou nos braços. Suas chuteiras foram expostas na vitrine de uma famosa joalheria na Rua do Ouvidor, no centro do Rio de Janeiro. Em São Paulo, Fried desfilou em carro aberto.
No ano seguinte, havia expectativa de que o Brasil repetisse o feito e vencesse o Sul-Americano outra vez. Mas não foi isso que aconteceu.
As derrotas de 1920
O campeonato foi sediado no Chile, e a Seleção não se saiu bem: venceu na estreia, mas perdeu os dois jogos seguintes. Um deles, contra o Uruguai, por 6 a 0 – maior goleada já sofrida pelo Brasil depois dos 7 a 1 para a Alemanha em 2014.
Antes de voltar para casa, a equipe foi à Argentina disputar um amistoso. Em Buenos Aires, os jogadores foram recebidos com uma charge racista, publicada no jornal Crítica. A imagem retratava os brasileiros como macacos e vinha acompanhada de um texto com a seguinte conotação: "Já estão os macaquitos em terra argentina. Esta tarde teremos que acender a luz às 4 da tarde para vê-los. (...) Se há uma gente que nos parece altamente cômica é a brasileira. São elementos de cor que se vestem como nós e pretendem se misturar à raça americana, gloriosa por seu passado e grande por suas tradições."
A publicação revoltou parte da delegação brasileira, e alguns jogadores se recusaram a jogar. Para Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, "foi o primeiro grito contra o racismo vindo de atletas, o primeiro grito de luta contra o racismo dentro do futebol brasileiro".
A partida acabou saindo de forma improvisada, disputada com sete atletas de cada lado. O Brasil perdeu por 3 a 1.
A exclusão dos jogadores negros
Alguns meses depois, em 1921 – há exatos 100 anos – a seleção voltaria à Argentina. Dessa vez, o Sul-Americano seria lá.
Ao invés de uma condenação ao racismo sofrido no ano anterior, o que se viu foi o contrário. O presidente do Brasil na época, Epitácio Pessoa, se reuniu com os diretores da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) – equivalente à atual CBF – e recomendou que apenas jogadores brancos representassem a Seleção. A justificativa era preservar a reputação do país no exterior.
Epitácio Pessoa não transformou a recomendação em decreto oficial, e nunca admitiu a interferência. "A gente pode não achar documentos, mas o maior jogador brasileiro na época era mestiço e não foi convocado. Então aquilo aconteceu", diz Carvalho. Friedenreich, que ao longo da carreira marcou 595 em 605 jogos – média maior que a de Pelé – estava fora.
Mesmo tratando-se do início do século 20 – apenas 33 anos após a Lei Áurea – a medida foi criticada. O Jornal O País denunciou: "Os senhores absolutos do esporte, num golpe reprovável, sem base, antiesportivo, excluem do quadro nacional os negros e mulatos."
O escritor Lima Barreto – que era negro – abordou a questão em uma crônica: "O football é eminentemente um fator de dissensão. Agora mesmo, ele acaba de dar provas disso com a organização de turmas de jogadores que vão à Argentina atirar bolas com os pés, de cá para lá, em disputa internacional. O Correio da Manhã aludiu ao caso. Ei-lo: ‘O Sacro Colégio de Football (a CBD) reuniu-se em sessão secreta, para decidir se podiam ser levados a Buenos Aires, campeões que tivessem, nas veias, algum bocado de sangue negro — homens de cor, enfim. (...) O conchavo não chegou a um acordo e consultou o papa, no caso, o eminente senhor presidente da República.' Foi sua resolução de que gente tão ordinária e comprometedora não devia figurar nas exportáveis turmas de jogadores; lá fora, acrescentou, não se precisava saber que tínhamos no Brasil semelhante esterco humano."
Décadas mais tarde, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano também lembraria do episódio em seu livro Futebol, ao Sol e Sombra: "Em 1921, a Copa América ia ser disputada em Buenos Aires. O Presidente do Brasil, Epitácio Pessoa (...) ordenou que não se enviasse nenhum jogador de pele morena, por razões de prestígio pátrio."
Com o time inteiramente branco, o Brasil não se saiu bem, e perdeu o torneio mais uma vez.
Diante da inferioridade técnica da equipe, em 1922 a CBD voltou a convocar os atletas negros. Mas não foi uma medida antirracista. "A entrada dos negros no futebol se dá puramente pelas capacidades técnicas e possibilidades de vitória que esses jogadores proporcionavam, é muito pouco ligada ao não racismo, à virada de chave contra o racismo", afirma Carvalho.
Naquele ano, o Brasil sediou o Sul-Americano pela segunda vez. Com os jogadores negros de volta – incluindo Friedenreich, que se machucou no primeiro jogo – a Seleção sagrou-se bicampeã.
Um século mais tarde
Cem anos se passaram, e uma Seleção inteiramente branca não voltou a se repetir. No entanto, o Brasil ainda tem o racismo muito presente no futebol, ressalta Marcelo Carvalho, do Observatório de Discriminação Racial no Futebol. "E nada é feito de forma contundente", critica. A entidade monitora dezenas de casos de racismo, e segundo aponta Carvalho, o número de punições não chega a cinco.
"Institucionalmente esse racismo ainda existe, mas é muito velado. Outro exemplo disso é a pouca quantidade de dirigentes e treinadores negros", diz. Casos de ofensas racistas contra jogadores negros também são comuns, dentro e fora do Brasil.
O escritor brasileiro José Lins do Rego afirmou certa vez que "o conhecimento do Brasil passa pelo futebol". Nessa mesma linha, Carvalho considera importante o resgate de personagens e eventos históricos sobre o preconceito racial sofrido nos campos: "Podem ser gatilhos para falarmos sobre racismo hoje. Porque aquilo ainda é muito presente na nossa sociedade. Não tem uma proibição de jogadores negros, mas a gente tem um racismo muito forte", reflete.
Isabela Martel/Caminho Político
@CaminhoPolitico

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