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sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Violência contra mulheres em Mato Grosso: quando a omissão se torna parte do problema

Os feminicídios que marcaram os últimos dias de novembro, as mortes de Júlia Nascimento Barbieri em Guarantã do Norte e de Gislaine Ferreira da Silva em Sinop, não são tragédias isoladas. São mais um alerta de que o sistema continua falhando com as mulheres de Mato Grosso.
Quando duas mulheres são assassinadas em questão de dias pelo simples fato de serem mulheres e isso se soma a mais de cinquenta feminicídios registrados somente em 2025, não estamos falando de episódios pontuais. Estamos diante de um colapso anunciado, em que o Estado não consegue proteger quem mais precisa. Mato Grosso segue, ano após ano, entre as primeiras posições do ranking nacional de feminicídios. E não é por falta de diagnóstico, pesquisas ou leis. O que falta é ação, comando e prioridade. Manter essa posição não é apenas vergonhoso. É a prova de que há falhas estruturais que não estão sendo enfrentadas.
Esse cenário não acontece por acaso. É resultado de escolhas políticas equivocadas, prioridades mal definidas e ausência de gestão. Enquanto o Estado hesita, agressores avançam e mulheres continuam pagando com a vida.
Os números deixaram de chocar porque viraram rotina. Naturalizamos o inaceitável. E o que mais precisa acontecer para o governo reconhecer que suas estratégias são insuficientes?
A proteção das mulheres não entra em colapso de uma hora para outra. Ela se deteriora aos poucos, na falta de monitoramento, no descumprimento de medidas protetivas, na ausência de resposta rápida, na falta de integração entre instituições que deveriam atuar juntas. É nesse vazio que o feminicídio prospera.
Se Mato Grosso quiser mudar essa trajetória, precisa agir com a urgência que o tema exige. Isso significa transformar medidas protetivas em instrumentos realmente efetivos, monitorar agressores com tecnologia, garantir resposta policial imediata e tratar como prioridade absoluta a articulação entre Judiciário, segurança, saúde e assistência social.
Outro ponto que não pode mais ser adiado é a transparência. Sem dados consolidados, públicos e atualizados, não existe política séria. Hoje, o Estado trabalha às cegas. Falta um sistema que mostre onde estão os gargalos: quantas medidas são descumpridas, quanto tempo leva uma resposta policial, quantos agressores reincidem. Sem isso, qualquer discurso de compromisso vira apenas retórica.
Os caminhos existem. O que falta é decisão política. Decisão que enfrente resistências, que assuma responsabilidades e que coloque a vida das mulheres no centro das prioridades. Mato Grosso não precisa reinventar nada. Precisa fazer o básico com rigor, coordenação e constância.
Feminicídio não se combate com notas de pesar, mas com políticas permanentes.
A pergunta é direta: até quando o governo vai permitir que mulheres continuem morrendo por omissões que poderiam ser evitadas?
Enquanto essa resposta não vier acompanhada de ações concretas, Mato Grosso permanecerá no topo de um ranking que nenhuma sociedade deveria tolerar. É possível mudar essa história, mas isso exige coragem para reconhecer falhas, firmeza para corrigi-las e determinação para agir todos os dias pela vida das mulheres.
Janaina Riva é bacharel em Direito, procuradora especial da mulher da Assembleia Legislativa e duas vezes a deputada estadual mais votada de Mato Grosso

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